Um amigo me perguntou o que era a Marcha das Vadias. Fui ao google confirmar aquilo que pela designação já era intuitivo. A defesa dos direitos da mulher.
O movimento recebeu esse nome em um protesto no Canadá em resposta à declaração de um policial que durante uma palestra na universidade de Toronto teria sugerido às estudantes que evitassem se vestir como “vadias”, para não serem vítimas de assédio. O comentário do policial revoltou as alunas, que realizaram uma manifestação contra a ideia de culpar as mulheres pela agressão que sofrem.
Felizmente este movimento tomou proporções além fronteiras e chegou ao Brasil. Constatei nas redes sociais que aqui no Rio de Janeiro mobilizou também as lésbicas, travestis e transexuais que se uniram em uma só voz pela mesma questão e se fizeram presentes ao ato de manifestação.
Mas, com certeza, essa luta contra a cultura machista e ditadorial é muito mais abrangente. Pertence a todos, independente do gênero e da orientação sexual. Todos aqueles (homens e mulheres) que respeitam a liberdade, ao direito à igualdade e a democracia deveriam estar lá, prestigiando tais ideais, pois estes eram os verdadeiros estandartes.
Quem melhor que lésbicas, travestis, transexuais e inclusive, gays e bissexuais para saber o que é ser tratado com desrespeito e menor valia, e ainda, ao final, de vítimas serem tratados como os errados ou culpados, porque não atenderam a normas machistas impostas por aqueles que se consideram donos das regras comportamentais adequadas?
As "vadias" são as mulheres vítimas da violência machista. Estes machinhos, que socialmente tanto criticam a cultura islâmica, mas se comportam de forma idêntica, insistindo em inverter valores e responsabilidades. Para estes, a culpa é sempre da mulher que se comportou ou se vestiu de forma inapropriada, "provocando" os homens.
Valendo-se da mesma lógica, estes homens agridem publicamente travestis na rua, porque, afinal, elas estavam na rua se comportando e se vestindo de forma que justificasse a agressão. Se for com uma lésbica, a violência se legitima com o 'estupro corretivo' para mostrar para ela aquilo que ainda não encontrou, um homem de "verdade". No fim, portanto, para eles, a culpa sempre foi delas. O assustador é que há quem concorde.
As "vadias" são as mulheres que sentem desejo, escolhem sua caça e transam. Como se isto fosse um direito e privilégio exclusivo dos homens. Para alguns deles, os machos não só podem como devem agir desta forma para confirmar sua virilidade. Elas não, se fizerem o mesmo, são vadias.
"Vadia" é a mulher que escolhe o que fazer com seu corpo. Para a mente machista, o corpo da mulher lhe pertence e é ele que deve dizer o que ela pode ou não fazer com ele.
Para o pensamento machista, mulher vale menos. E, dentro de um menu variado de opções de adjetivos depreciativos, como apelidam um gay? "mulherzinha"! Portanto, não à toa, um "diminutivo" pejorativo de mulher! Numa referência clara que gay é pior que mulher. O estupro é sem o genital, enfia-se uma estaca, um cabo de vassoura, uma garrafa e equivalentes na bunda de um gay. Mata-se.
Lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros acordem! A Marcha das Vadias também lutou por todos vocês!
As "vadias" pintaram o sete e mostraram a que vieram. Originais, guerreiras e revolucionárias.
Pintaram mensagens em seus próprios corpos e cartazes: "Não vim da sua costela, você que veio do meu útero"; "Minha bunda, minhas regras"; "Sim, nós gozamos"; "Nem santa, nem puta. Livre"; "Meu corpo, minha regra"; "A porra da buceta é minha"; "Sou vadia, mas isto não te dá o direito de estuprar", entre muitos outros.
As vadias para mandarem o seu recado e mobilizar nacionalmente a atenção NÃO precisaram de uma Parada, nem de carros alegóricos ou caminhões de sons com músicas diversas. Fizeram uma MARCHA cidadã, repleta de protestos nos seus corpos e em simples cartazes, criativa e absolutamente revolucionária.
A diversão foi consequencia e não a causa da presença. Principalmente, por conta da seriedade do contexto e motivação, fez muita gente pensar.
A Marcha das Vadias foi um sucesso!