Sem dúvida hoje obtivemos uma
excelente notícia.
O
projeto de lei do Senado, nº 612 de 2011, proposto pela Senadora Marta Suplicy,
que deseja alterar os artigos 1723 e 1726 do Código Civil, para permitir o
reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, assim como o
direito da conversão desta união em casamento foi aprovado pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação
Participativa do Senado Federal, conduzido pelo relatório e voto da Senadora
Lídice Mata. Este projeto agora segue para outra comissão do Senado, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (em
decisão terminativa.)
Significa
dizer que, de efetivo, podemos contabilizar dois ganhos: (1) por si só, a iniciativa
da proposta deste projeto de lei da sempre louvada Senadora Marta Suplicy; (2) e
agora, ver ultrapassado o momento seguinte com a aprovação da Comissão de
Direitos Humanos do Senado.
Mas sem
querer ser estraga prazeres, e em respeito à realidade, considerei efusiva
demais a conotação dada pelos meios de comunicação em torno desta notícia. O
caminho deste processo legislativo está muito mais longe que perto de seu final.
É que se trata
de um projeto de lei que foi proposto no Senado e que ainda tem que passar pela
Câmara de Deputados e, no longo e dificílimo caminho a percorrer, até agora
passou única e exclusivamente por uma única Comissão, ou seja, nem mesmo no próprio
Senado Federal ainda foi encerrada a tramitação para que possa ser encaminhada
para Câmara de Deputados.
Não estou
desmerecendo esta importante vitória, mas receio que alguns menos atentos
possam fantasiar que nosso Congresso Nacional mudou ‘para melhor’ em relação
aos direitos de LGBTs ou que, pelo alarde criado, esteja a aprovação deste
projeto com os dias contados naquelas casas (Câmara de Deputados e Senado
Federal), que diga-se, JAMAIS APROVARAM, ATÉ HOJE, QUALQUER LEI EM FAVOR DE
DIREITOS LGBT.
Já vivemos
situações nas quais outros projetos de leis avançaram muito mais que a mera aprovação
por uma mera comissão. E, nem por isso, chegaram até hoje ao seu termo final,
para que pudéssemos, de fato e consubstancialmente, festejar.
Basta
confrontar os andamentos do Projeto de Lei nº 5.003-B, de 2001, da então Dep. Iara Bernadi, hoje conhecido por Projeto
de Lei da Câmara (PLC) nº 122, de 2006, que pretende criminalizar a prática da
homofobia. Este projeto de mais de uma década atrás foi aprovada por todas as
comissões e, pasme, em regime de urgência, por proposta do Deputado Rodrigo
Maia, também aprovado pelo plenário da Câmara de Deputados, e há seis anos está
no Senado, com incontáveis idas e vindas, até hoje sem aprovação. Total de onze
anos já transcorreram.
Aliás, outro
antigo projeto de lei nº 1151, de 1995, da própria Marta Suplicy, enquanto
Deputada Federal, que pretendia o reconhecimento da “união civil”, mais adiante
especificada como “parceria civil registrada” para pessoas do mesmo sexo, passou
por todas as comissões naquela casa e jamais foi levada a votação no plenário,
até porque, todos sabiam, já muito defasada. Dezesseis anos se passaram.
O
lamentável histórico do Congresso Nacional em relação aos direitos LGBTs neste
país não é nada inspirador e, por este motivo, apesar desta vitória nesta
comissão no senado, me sinto no direito de considerá-lo devedor, e me sentir um
credor, que não se regozija com expectativas de uma dívida até hoje efetivamente
não paga.
O Poder
Judiciário, através da sua Corte Máxima, por unanimidade, já cumpriu a sua
obrigação constitucional de reconhecer estes mesmos direitos no julgamento da
ADPF 132 e da ADI 4277, apesar de existirem ainda alguns juízes narcisistas que
se julgam acima da constituição federal e do poder hierárquico a que estão
submetidos. Da mesma forma o Poder Executivo, que dentro de seus limites, no
governo anterior, conferiu alguns semelhantes direitos na área administrativa.
Com a
ressalva de alguns congressistas, o Congresso Nacional sempre foi intencional e
gravemente omisso com os cidadãos homossexuais brasileiros. O que parcialmente esboça
fazer agora, vergonhosamente, chega com
atraso e não é mais que sua obrigação, sob a ótica humanista e constitucional.
Enquanto estes políticos reacionários que temporariamente ocupam a Câmara de
Deputados e Senado Federal não mudarem os direitos universais do homem e os
princípios fundamentais da nossa Constituição Federal, meus direitos eu exijo,
quer eles façam projetos de leis ou não, e não há aplausos, por apenas desenharem
o possível cumprimento do dever constitucional.
Da minha parte, como cidadão
não contemplado com a efetiva igualdade e dignidade que me são garantidos, há exigências
e reclamações. Calejado, eventuais aplausos, ainda assim tímidos, ficam para depois, se for o caso.
Um comentário:
Esta foi uma boa notícia. Espero que passe na Câmara dos Deputados, onde a resistência é maior. Todavia, um importante passo na luta pelos direitos.
Abraços
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