Atente que não disse “na” Parada, mas “no dia” da Parada, pois o crime não ocorreu no local do evento, mas nas proximidades do mesmo.
Na realidade, o que foi largamente divulgado, inclusive, pelos jornais de repercussão nacional é que o crime ocorreu na Parada Gay de Juiz de Fora e isto não é verdade.
Nem perderia meu tempo para esclarecer isto porque bastaria uma leitura mais atenta para extrair a veracidade dos fatos dos noticiários, os quais revelam, ainda que indiretamente, que a vítima e nem o criminoso participavam do evento ou eram homossexuais.
A Parada não foi a causa da violência, nem mesmo serviu como cenário, apenas foi um chamariz levianamente aproveitado, como seria se o crime houvesse ocorrido próximo a uma procissão religiosa ou um desfile carnavalesco.
A questão que me chamou atenção na mencionada Nota Pública do MGM foi uma grave e justa denúncia descortinada: a cultura machista e violenta já cimentada em parte dos jovens de Juiz de Fora, sem atenção e devidos cuidados por parte da atuação do estado.
Gangues de jovens da periferia se tornaram algo banal no local. Inclusive, o rapaz assassinado pertenceria a uma gangue designada como “de Santa Luzia”.
“Questionar a completa e total ausência de políticas públicas para a juventude mineira. Esse é o debate a ser feito. A TV Panorama em seu telejornal da tarde de segunda-feira, dia 16/08/2010 fez uma retrospectiva de matérias que mostram depredações de ônibus urbanos e morte de outros adolescentes de gangues, em datas e locais onde a Parada Gay não se realiza”, afirma MARCO TRAJANO, Presidente do MOVIMENTO GAY DE MINAS, na aludida Nota.
Não é a toa que o tema do ano anterior da Parada Gay de Juiz de Fora foi exatamente “"Juiz de Fora, Juiz de Paz".
Portanto, a associação do crime a Parada Gay de Juiz de Fora é muito mais que uma distorção da realidade. É uma ofensa a honra do MGM, pois ela não só defende a paz e harmonia social como emprega imenso esforço para organizar uma Parada que possui por escopo ir contra exatamente essa cultura selvagem e de estereótipo machista que somente resulta em discriminação e violência contra os cidadãos lgbt.
O crime em questão é resultado dessa carga cultural pesadíssima de autoafirmação machista que conduzem jovens a se agruparem em gangues em busca do reconhecimento de “macho poderoso” entre os seus.
Insinuar que a Parada Gay de Juiz de Fora foi a responsável é criminoso e extremamente ofensivo. Seria o mesmo que dizer a vítima de um assalto violento foi responsável pelo roubo porque trazia consigo algo de valor.
Essa inversão de valores é inaceitável e só serve para sinalizar com cores mais fortes o risco que advém de tais jovens perdidos e violentos e o que são capazes de fazer com minoriais que não correspondam ao seu código cultural.
É a ausência de atuação do Estado em favor destes jovens em situação irregular, apesar das leis existentes e, mais ainda, inexistência de qualquer ordenamento jurídico que tenha caráter preventivo e proteja vítimas lgbts que possam se tornar alvo preferencial daqueles. Situação semelhante ocorreu com Alexandre Ivo, aquele adolescente assassinado por três jovens em São Gonçalo/RJ.
"NOTA PUBLICA DO MOVIMENTO GAY DE MINAS
O Movimento Gay de Minas, a comunidade LGBT de Juiz de Fora e os heterossexuais simpatizantes presentes na Parada do Orgulho Gay de Juiz de Fora lamentam profundamente o assassinato do jovem Randerson de Paula Ferreira, de 15 anos, ocorrido próximo a concentração da Parada e, de acordo com o portal megaminas, pertencia a gangue de Santa Luzia.
O Movimento Gay de Minas seguiu as orientações da PMMG e da Prefeitura, mudou o trajeto da Parada do Orgulho Gay no ano de 2010 exatamente para minimizar a violência verificada entre essas gangues que perturbam a Parada do Orgulho Gay, o carnaval e transitam pelas ruas da cidade nas noites de domingo difundindo uma cultura de violência e territorialidade que vai na contra-mão do objetivo da Parada do Orgulho Gay que sempre se pautou pela paz, pelo combate à violência, à homofobia, ao racismo, pelo combate ao machismo e pelos direitos das mulheres.
O tema da Parada Gay de Juiz de Fora no ano de 2009 foi "Juiz de Fora, Juiz de Paz", exatamente para difundir nossa filosofia de vida que é a cidadania plena de toda a população de Juiz de Fora. Associar essa violência à nossa Parada Gay não apenas exala a homofobia que tanto combatemos mas, pior ainda, foge da real discussão que o fato demanda: a violência que se instalou entre a juventude de Juiz de Fora, chegando ao absurdo de termos gangues de adolescentes nos bairros de periferia de nosso município.
Questionar a completa e total ausência de políticas públicas para a juventude mineira. Esse é o debate a ser feito. A TV Panorama em seu telejornal da tarde de segunda-feira, dia 16/08/2010 fez uma retrospectiva de matérias que mostram depredações de ônibus urbanos e morte de outros adolescentes de gangues, em datas e locais onde a Parada Gay não se realiza.
O que leva um jovem de periferia, junto com outros membros de sua comunidade, a se dirigir ao centro da cidade onde se realizava a Parada do Orgulho Gay armados com arma de fogo? No nosso entender, a falta de perspectiva de vida, de estudo, de cultura, de cidadania a que nossa juventude esta relegada são os responsáveis pela total falta de controle desses jovens nos eventos públicos em nossa cidade.
O Estado insiste em não enxergar a juventude de Juiz de Fora empurrando-os cada vez mais para uma cultura de violência; insiste em empurrá-los para uma cultura machista onde as questões pessoais, de territorialidade se resolvem à bala, na dor, na falsa demonstração de poder que cada vez encastela o restante da população em condomínios fechados.
A incompetência estatal e a homofobia, demagogicamente, jogam sobre os ombros dos eventos populares e de cidadania como a Parada do Orgulho Gay a responsabilidade pela falta de políticas públicas para a juventude do estado de Minas Gerais.
Por estas razões o MGM vem a público lamentar profundamente a morte desse jovem adolescente e dizer que não tem poupado esforços para minimizar a violência urbana a que todos nós, homossexuais e heterossexuais de Juiz de Fora, estamos expostos.
O que precisamos é aprofundar a discussão e elevar o nível do debate sobre a formulação e implantação de uma política publica mineira para a juventude.
Cidadania para todos!!!!!!
MARCO TRAJANO
MOVIMENTO GAY DE MINAS"
4 comentários:
Carlos,
Agradeço seu posicionamento solidário, em relação à Parada de JF e concordo plenamente com suas observações: transferir a responsabilidade da inépcia do estado em relação aos jovens para a Parada Gay ou o MGM é o mesmo que culpar a mini saia pelo estupro da mulher.
Parabéns pelo artigo. Estou divulgando na minha rede.
Olá, tudo bem? Vc não vai falar sobre o episódio de A liga (Band) que abordou o preconceito contra homossexuais? O programa foi interessante.
Fernando
Olá, tudo bem? Vc não vai falar sobre o episódio de A liga (Band) que abordou o preconceito contra homossexuais? O programa foi interessante.
Fernando
Oswaldo,
Obrigado pela visita e não há o que agradecer, até porque não é so o MGM a vítima. Somos todos nós.
Abraços
Fernando,
Tentarei descobrir algo sobre o episódio mencionado por você para que possa fazer algum comentário.
Obrigado e abs,
Carlos Alexandre
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