Vi uma pessoa indignada porque um determinado candidato a
Prefeito teria afirmado que "O Rio de Janeiro é o sonho de todos os brasileiros e
muitos estrangeiros". Apesar do exagero, quase poético, concordo com ele.
Mas esta revolta me fez pensar.
Para escolher um candidato que disputa ao cargo de Chefe do
Executivo vejo com carinho mais que especial aquele que constato aparentar uma paixão
pela cidade, estado ou país. Atenção, porque esta ordem faz toda a diferença,
como se verá mais adiante!
Apesar de o alvo fim ser os cidadãos, seus direitos e
garantias fundamentais, não consigo deixar de levar em consideração (e muito) a
percepção de como o candidato se relaciona emocionalmente com o local que
pretende governar.
É um pensamento bairrista e até questionável se considerar
que não é uma forma de enxergar que seja agregador, pelo oposto, há uma certa
valoração que pode conduzir a ideia de supremacia do lugar perante outros, estimula
a disputa entre locais, gerando
conceitos que eventualmente podem se confundir como fomento àquilo que, por princípio, rejeito: separação,
diferenças e discriminação.
Mas desconfio muito das pessoas ditas muito generosas que
dizem dar atenção primeiro a todos, para depois, a si mesmo. Nem acho isto
inteligente.
Essa sensação advém da minha própria percepção pessoal. Da
mesma forma que dentro da minha casa, quero ter todo o conforto possível e me
sentir feliz por estar nela, sem culpa de sentir isto. Quando escolho o síndico
de um condomínio onde sou um dos proprietários não quero só que seja o mais
competente em baixar os custos e atender as necessidades básicas para o seu
funcionamento. Sinceramente, desejo que a pessoa eleita seja aquela que tenha
orgulho/paixão pelo edifício e também torne o ‘meu’ prédio, e por conseguinte,
o meu imóvel, o melhor entre aqueles do mercado. Aqui, obviamente, não há o bem
comum como prioridade, mas meus próprios interesses pessoais.
Não é diferente daquilo que espero em relação a mim mesmo e também
frente a outras pessoas: me ver e sentir cada vez melhor. Igualmente, não acho
que deva me sentir culpado se considero que o outro não é (igual), até porque
ele pode estar satisfeito consigo mesmo, independente da minha subjetiva avaliação
pessoal.
Essa concepção se aplica do mesmo modo para o “meu” bairro,
cidade, estado ou país. Só não comparo com os outros planetas porque a
distancia e falta de afinidade é grande demais!
Então sou contraditório? Digo ser a favor da igualdade e
contra a discriminação, mas narcisista e burguês, que só quero a “igualdade” naquilo
que possuo menos que a maioria?
Na verdade creio não ser contraditório, talvez umbigocêntrico.
Não consigo negar que minhas avaliações surgem a partir do meu umbigo. É fato
que quero ter acesso ao exercício de direitos que ambiciono que alguns (ou
maioria) possuem, mas nem por isso, estou querendo dizer que desejo que todos
os demais tenham “menos” que eu. Pelo oposto, quero que todos tenham o mesmo
conforto, bens, direitos e melhores emoções.
A diferença é que não consigo conceber a luta primeira pelos
outros, sem antes me esforçar por mim mesmo. Não posso defender a vida do outro
se não estiver vivo, portanto, significa dizer, de tê-la antes defendido.
Reconhecer a minha vida como valiosa é o meu parâmetro para
defender conscientemente a vida dos demais com idêntica qualidade.
É difícil confiar que alguém que espontaneamente é negligente
com sua casa, vá voluntariamente cuidar bem da casa alheia. Falta até lastro
para que isso se concretize de forma competente.
Vejo isto como amor próprio. Quem não se ama, difícil é amar
o outro. O que não impede de tal amor, se existente, ocorrer quase concomitante.
Eu amo minha cidade. Vejo nela qualidades inigualáveis em
relação as outras. Acho-a, sem dúvida, a melhor existente no país, a mais bela,
luminosa, verde, interessante, alegre e assim por diante. Os defeitos, reconheço e luto
com meus pares para modificá-los. Portanto, ainda que saiba que se trate de uma
questão relativa, concordo com aquele político, aqui é o sonho de cidade que a
maioria gostaria de morar.
Não é exatamente assim que penso do meu país, muito menos do
meu continente, e o dia que ultrapassar os defeitos da cidade, a luta (que já
existe) se enfatizará mais no estado, país, continente e até o mundo, para que
todos desfrutem da mesma paixão e orgulho.
Porque isto seria errado? Não é socialista e nem humanista
suficiente?
Talvez alguém me cite Nietzsche. Lembro de ter lido suas
razões contra o "nacionalismo", para ele uma burrice. Mas se não guardei,
certamente tive minhas razões, ou melhor, emoções.
Só me resta dizer: ‘então tá’, e recomendar duas
canções: Cidade Maravilhosa e My Way.
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