A primeira coisa que pensei quando soube que Marta Suplicy
aceitou o convite de Dilma Roussef para ser Ministra da Cultura foi no projeto
de lei 122/2006 que pretende criminalizar a homofobia.
Senti um incômodo.
Os sentimentos cegam a razão, para o bem e para o mal.
Não foi diferente em relação a atual Ministra da Cultura. A
admiração que nutrimos por ela justificaria a sensação. O primeiro momento da
notícia de sua saída do Senado foi de prejuízo ao interesse pessoal, mas em seguida, achei que
a situação merecia uma melhor ponderação, afinal, envolvia a Marta.
É que ela além de não ser LGBT, também não foi uma candidata
com uma plataforma específica direcionada ao segmento. Isto me fez sentir estar
sendo injusto cobrar ou sentir qualquer espécie de indignação.
Só para lembrar, Marta foi uma candidata ao Senado de SP, com
propostas de trabalhar para a eliminação da pobreza no Brasil e a implantação
de Centros Educacionais Unificados no Estado de São Paulo, além de defender a
destinação dos royalties do pré-sal para a educação. A priori qualquer suplente
que seja natural de São Paulo terá propósitos bastantes semelhantes.
Sob este aspecto, me pareceu absolutamente justo e um direito
seu em galgar outros rumos, portanto, não teria existido “traição”.
Então porque a tal sensação?
Como todos lembram, o PLC 122/2006 foi para o arquivo e Marta
Suplicy após se eleger Senadora da República tratou de desarquivá-lo e dar
andamento ao mesmo, chamando para si a responsabilidade da luta em nome dos
LGBTs.
Marta sempre foi comprometida com a causa LGBT e sempre
mereceu total admiração e respeito de toda comunidade.
Na época que se candidatou a senadora pelo estado de São
Paulo, Marta, como sempre, esteve presente a Parada Gay e durante a campanha
posou com a coordenação regional LGBT do PT. Nada mais natural.
Sua última campanha, mesmo menos explícita em relação aos
gays, foi além dos territórios paulistas. Eu mesmo, daqui do RJ sempre fui um
grande entusiasta da Marta. Reconhecimento é o mínimo.
O eleitor LGBT, marcado pela triste característica da
infidelidade ao candidato LGBT abre uma feliz exceção quando o nome de Marta
Suplicy entra na roda. Nem mesmo a lambança de Dilma Roussef com evangélicos conseguiu
atingir de forma direta e contundente nossa musa política.
E, após eleita Senadora da República, em qualquer lugar deste
país, como ocorreu no Rio de Janeiro e na Bahia, sua acolhida pelos LGBTs sempre
foi de entusiasmo, recebendo Marta com aplausos de pé.
Marta superou o estado de origem e ganhou o respeito
nacional.
A militância LGBT não chegou a ser surpreendida com a
possibilidade de saída de Marta Suplicy do cargo de Senadora, pois foi
amplamente divulgada sua intenção de concorrer este ano nas eleições municipais
para prefeita, o que acabou não acontecendo por força da vontade de Lula e seus
correligionários partidários.
Mas daí veio o convite de Dilma para o ministério da cultura,
que segundo noticias, já havia sido oferecido à senadora em abril deste ano,
mas que foi recusado. Segundo interlocutores, ela teria dito que esperava uma
pasta mais polpuda, como a das Cidades.
O Segundo convite, para a mesma pasta, como já ressaltado no
início, foi aceito, um dia após um apoio político questionável para um
determinado candidato a prefeito da cidade de São Paulo. Afirma-se, na
imprensa, que o convite foi resultado de uma tratativa de troca de interesses.
Só aí, os ingênuos LGBTs pararam para se perguntarem se ela
saísse como ficaria o PLC 122 e quem entraria em seu lugar.
Se a resposta para a primeira pergunta já era uma desgraça, para
a segunda foi uma verdadeira catástrofe.
Marta abandona a relatoria do PLC 122, sai de cena do Senado e entra no seu lugar seu suplente, Antonio Carlos Rodrigues (PR).
O Suplente da Marta não surgiu da cartola. Já era pessoa
nominada, conhecida, com nome, endereço e histórico a mão de qualquer pessoa.
Evidente que para Marta Suplicy e o PT a memória da figura do suplente sempre foi
latente. Ambos sempre souberam de quem se tratava. Só os LGBTs, ingênua e descuidosamente,
batiam palmas de pé para o possível sucesso de Marta sem saber o que lhes
esperavam.
Marta deixou em nossos colos um presente de grego, o suplente
Antonio Carlos Rodrigues (PR) que vai assumir sua vaga no Senado, além de amigo
pessoal do Magno Malta, é contra o casamento igualitário e o aborto. "Vou
seguir sempre as posições da Igreja Católica nas votações. Para mim homem é
homem e mulher é mulher. Também sou contrário ao aborto e à eutanásia",
disse o senador suplente, deixado por Marta para nós, sempre com a contribuição
costumeira da Presidenta Dilma, que parece ter vindo do fogo eterno predestinada
a infernizar a vida dos LGBTs .
Evidente que sei que a suplência não foi definida por ela,
mas pelo partido que prima por seus interesses políticos. No entanto, ninguém
pode esquecer que ela o aceitou.
Minha conclusão pessoal é que Marta nos traiu e é responsável
direta pelos danos e retrocesso que nos causa neste momento. Ela, voluntariamente,
nos convenceu de sua posição como nossa garantidora, assumindo no Senado
Federal a responsabilidade de tentar a garantia, cuidado, proteção e defesa aos
LGBT e, mesmo tendo a possibilidade de continuar atuar neste sentido, optou por
colocar naquele local, sob sua responsabilidade, alguém que irá nos perseguir,
atacar e negar direitos.
Ela, e não outra pessoa, fez isto, neste momento. No meu entender, Marta Suplicy tinha o dever ético de impedir que isto ocorresse.
Ela, e não outra pessoa, fez isto, neste momento. No meu entender, Marta Suplicy tinha o dever ético de impedir que isto ocorresse.
Mas qual foi a resposta de Marta para nós?
“A nova ministra da Cultura, Marta Suplicy, disse nesta
quinta-feira que a opinião do seu suplente no Senado, Antonio Carlos
Rodrigues (PR), contra o casamento gay e o aborto "não causa nenhum
constrangimento" a ela. "Ele estava na minha coligação partidária, é
o meu suplente. Não tenho nada a dizer sobre isso. A grande maioria dos
evangélicos não é homofóbica. São pessoas que respeitam a diversidade",
disse a nova ministra, esquecendo que seu suplente afirma ser católico”.
Foi significativa e de doer essa resposta. Nos dá o exato local no qual estamos para a Ministra.
Amargo gosto de Traição.
É sempre amarga a traição que vem acompanhada da decepção em alguém que se acreditava.
Amargo gosto de Traição.
É sempre amarga a traição que vem acompanhada da decepção em alguém que se acreditava.
2 comentários:
Oi, Carlos!
Saudades de você, que sempre nos defendeu com extrema dignidade. Concordo com tudo o que disse, sempre achei Marta Suplicy falsa e oportunista com relação aos LGBT's, vide o já notório caso dela ter "perguntado" ao Kassab, na época em que os dois eram candidatos à Prefeitura daqui, Sampa, "se ele era casado e teria filhos", insinuando porcamente que uma possível homossexualidade de Kassab o desqualificaria. E anteriormente, houve o caso também já conhecido dela não ter recebido militantes LGBT no seu último ano como prefeita e, pior, mandou a sua Gurda Municipal enxotá-los do prédio com cacetetes. Me envergonha militantes LGBT's que ainda a apoiam, acho que destes a traição é bem mais grave, pois destes se espera que coloquem a questão LGBT em primeiro lugar, acima, inclusive, dos seus egos. Mas há pessoas outras, como você, que mantêm a dignidade e coerência. Obrigado,
Ricardo Aguieiras
aguieiras2002@yahoo.com.br
Olá Ricardo Aguieiras,
Obrigado pelas gentis palavras.
O mínimo que se espera é que a coerência exigida também seja adotada. Não se pode esperar a perfeição de ninguém, mas tem que ser digno e se respeitar os demais.
Abraços
Carlos Alexandre
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