O presente blog se propõe a reflexão sobre os Direitos Humanos nas suas mais diversas manifestações e algumas amenidades.


sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Canastrões



Confesso que não sou íntimo de teatro, mas achei inquietante assistir hoje a estreia de “Canastrões”, uma peça do português Moncho Rodriguez, com Gracindo Júnior e seus dois filhos, Gabriel Gracindo e Pedro Gracindo, no Teatro Arena – Espaço Sesc - Cobapacana, no Rio.

A representação teatral começa com uma corda sendo arrastada.

A corda que conduz a vida ou é a própria.

A peça extremamente cênica é um convite escrachado ao lúdico.

Os figurinos, máscaras, o cenário, luz e a música acrescidos com as expressões corporais e  vozes são poesias fáceis muito bem conduzidas pela atuação dos atores. O texto tem uma sofisticação que nem sempre tem a mesma facilidade, tal como a poesia o é.

Em tempos de facebook é pertinente dizer que a peça cutuca e cabe a você entender o que a cutucada quer dizer.

A subjetividade impera e é questionada. Perpassa por vários momentos. O que alimenta o ator é o aplauso e seu tormento e gloria se confunde com quem é ou está sendo em atuação. As perspectivas do olhar do ator na relação com o expectador também são aventadas, este observado,  em determinado momento, como efêmero e passageiro, que muda a cada dia de espetáculo, que paga e exige entretenimento, ávido para esquecer a vida, ressaltando o quanto também pode ser cruel na critica com o ator ao sair daquele cenário e até ser efetivamente apagado da memória da história cultural.

É um diálogo da vida de atores focados em seus baús criativos de personagens que discutem sua própria existência, assim como a ilusão e realidade e o ato de criação.

O Gracindo Júnior, como já era de se esperar, dá show. Sua entrada intensa e pesada já é triunfal e diz logo a que veio, da mesma forma que, ao som de uma música, sai de um baú de máscara e mostra um gingado com frescor e vitalidade. Seu filho mais novo, Pedro Gracindo, me impressionou bastante ao incorporar a sua personagem com tanta leveza, beleza e sensibilidade, independente dos inúmeros instrumentos musicais que utiliza e de uma pretensa contribuição do texto que lhe tocava. Exemplo disto é sua composição cênica que possui momentos muito curvado e/ou excessivamente alongado que simbolicamente te sobressalta, sem perder em nenhum momento a naturalidade.

Na verdade, toda família Gracindo arrasou. A mistura é óbvia. Arte, Vida e Família. A arte em família ou a vida da família na arte, tal como o espetáculo. 

Utopicamente não falta ali nem a figura máxima da origem de todos os Gracindos, o ator/pai/avô Paulo Gracindo, que diria eu muito bem representado pelas três grandes bagagens (canastras) em cena que transportavam, além de arte e inspiração, todo lastro e expertise de um ator. Só esta mistura ficta/real, por si só, já é instigante. No fim é como se tudo e todos fossem uma coisa só. 

A peça se vale da ilusão para se aproximar da realidade, num jogo metafórico, brincando com personagens que são atores.

Enfim, entretenimento cheio de emoções que, sem dúvida, faz pensar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Uma analise critica da maior qualidade.

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