Confesso que não sou íntimo de
teatro, mas achei inquietante assistir hoje a estreia de “Canastrões”, uma peça
do português Moncho Rodriguez, com Gracindo Júnior e
seus dois filhos, Gabriel Gracindo e Pedro Gracindo, no
Teatro Arena – Espaço Sesc - Cobapacana, no Rio.
A representação teatral começa
com uma corda sendo arrastada.
A corda que conduz a vida ou é a
própria.
A peça extremamente cênica é um
convite escrachado ao lúdico.
Os figurinos, máscaras, o cenário,
luz e a música acrescidos com as expressões corporais e vozes são poesias fáceis muito bem conduzidas
pela atuação dos atores. O texto tem uma sofisticação que nem sempre tem a
mesma facilidade, tal como a poesia o é.
Em tempos de facebook é
pertinente dizer que a peça cutuca e cabe a você entender o que a cutucada quer
dizer.
A subjetividade impera e é
questionada. Perpassa por vários momentos. O que alimenta o ator é o aplauso e seu
tormento e gloria se confunde com quem é ou está sendo em atuação. As
perspectivas do olhar do ator na relação com o expectador também são aventadas,
este observado, em determinado momento, como
efêmero e passageiro, que muda a cada dia de espetáculo, que paga e exige
entretenimento, ávido para esquecer a vida, ressaltando o quanto também pode
ser cruel na critica com o ator ao sair daquele cenário e até ser efetivamente
apagado da memória da história cultural.
É um diálogo da vida de atores focados
em seus baús criativos de personagens que discutem sua própria existência,
assim como a ilusão e realidade e o ato de criação.
O Gracindo Júnior, como já era de
se esperar, dá show. Sua entrada intensa e pesada já é triunfal e diz logo a
que veio, da mesma forma que, ao som de uma música, sai de um baú de máscara e mostra um gingado com frescor e vitalidade. Seu
filho mais novo, Pedro Gracindo, me impressionou bastante ao incorporar a sua
personagem com tanta leveza, beleza e sensibilidade, independente dos inúmeros
instrumentos musicais que utiliza e de uma pretensa contribuição do texto que lhe
tocava. Exemplo disto é sua composição cênica que possui momentos muito curvado e/ou excessivamente
alongado que simbolicamente te sobressalta, sem perder em nenhum momento a naturalidade.
Na verdade, toda família Gracindo
arrasou. A mistura é óbvia. Arte, Vida e Família. A arte em família ou a vida
da família na arte, tal como o espetáculo.
Utopicamente não falta ali nem a
figura máxima da origem de todos os Gracindos, o ator/pai/avô Paulo Gracindo,
que diria eu muito bem representado pelas três grandes bagagens (canastras) em
cena que transportavam, além de arte e inspiração, todo lastro e expertise de
um ator. Só esta mistura ficta/real, por si só, já é instigante. No fim é como
se tudo e todos fossem uma coisa só.
A peça se vale da ilusão para se
aproximar da realidade, num jogo metafórico, brincando com personagens que são atores.
Enfim, entretenimento cheio de emoções que, sem dúvida, faz pensar.
Enfim, entretenimento cheio de emoções que, sem dúvida, faz pensar.
Um comentário:
Uma analise critica da maior qualidade.
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