Aproveitei este
feriado prolongado e chuvoso para ler notícias e, depois de visitar o blog Comer de Matula, resolvi passear por blogs do primeiro mundo, me deparando com um site temático lgbt francês, o qual acabei me detendo muito mais tempo do
pretendido inicialmente.
Era impossível parar
e confesso que fiquei surpreso.
Embora no último ano não
tenha tido muito tempo para uma leitura mais atenta daquilo que vem ocorrendo
no mundo lgbt fora das nossas fronteiras, pensei que possuía uma alguma noção
da nossa realidade se comparado com os demais países, principalmente, os mais
desenvolvidos.
Mas constatei que uma
coisa é ler salpicadas notícias em momentos diversos e outra é ver um blog gay europeu,
com notícias acumuladas de todos os locais, nacionais e estrangeiras, no dia
a dia.
Num período de tempo,
acabamos lendo várias notícias que ocorreram em diversos países, que se refiram
a direitos lgbt. Fica tudo no pacote de notícias internacionais. Não nos
focamos numa determinada localidade, mas quando isto ocorre, a perspectiva e o resultado são outros.
As que acontecem no
nosso país não tem como deixar de perceber. Sentimos na pele todos os dias.
As notícias que
chegam de fora encontram duas formas de acolhidas críticas: quando são dos
países de primeiro mundo e boas, servem para nos sentirmos inferiorizados, e
quando são de países mais pobres ou fundamentalistas e ruins, superiores.
Mas após a leitura de
hoje, observando tudo dentro de um mesmo pacote, a sensação é que, com raras
exceções e características regionais, as notícias de fora não são tão distantes
das nossas realidades daqui.
No blog Francês,
virava e mexia, se rediscutia a proibição da doação de sangue de
LGBTS (como assim, eles também não podem doar?), a luta pelo casamento entre pessoas
do mesmo sexo (lá ainda não permite casamento gay?), a adoção de casais gays (ainda
se discute isto?) e a posição dos políticos locais (França) em fase de
campanha.
Há seis meses houve
uma notícia intrigante. A administração pública francesa se recusou a
reconhecer o casamento de um casal homossexual, celebrado no início de 2011,
na Espanha (país que legalizou o casamento gay). Isto porque, um é espanhol e
o outro franco-espanhol. Se os dois homens fossem espanhóis, o casamento
deles teria sido reconhecido pela França, porque a França, embora não adote o
casamento gay, reconhece casamento gay de estrangeiros. Mas como um deles é
franco-espanhol, não foi aceito, o que constitui "discriminação
reversa" e um obstáculo “à liberdade de se estabelecer" dos
cidadãos europeus, de acordo com a advogada Caroline Mécary.
Aliás, falando em tratamento
diferente e casamento entre pessoas do mesmo sexo, também vi por lá, como a nossa
vizinha Argentina está merecidamente bem na fita. Agora a Argentina realiza também
casamento de casais homossexuais estrangeiros.
O ativista gay Alex
Greenwich (que reside em Sydney) se casou com seu companheiro Victor Hoeld em
Buenos Aires no final do mês passado. Estes dois cidadãos australianos
tornaram-se o primeiro casal estrangeiro do mesmo sexo a se casarem na Argentina. Na
verdade desde o mês passado, todos os casais que sejam de origem de países
que não aceitam esta união serão autorizados a se casar em Buenos Aires, sob
uma espécie de justificativa de situação emergencial.
Para que este
casamento ocorra por lá, segundo o site argentino, precisa apresentar o
comprovante de identificação da presença legal na Argentina, um
"certificado de referência residência real precária", ou seja, uma
conta de hotel ou declaração das pessoas da casa na qual você está hospedado,
e um exame médico "antes do casamento". Uma vez apresentadas essas três exigências, demora em torno de cinco dias para se celebrar formalmente a união.
Óbvio que tenho que advertir que estas informações são de um site e de uma
tradução livre, portanto, dependem de uma verificação mais aprofundada.
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Surpreenderam-me
também os resultados de enquetes medonhas ocorridas no Grã-Bretanha sobre gays
(ainda fazem este tipo de enquetes?), descobrir que a Pride House dos Jogos Olímpicos
de Londres, para promover a comunidade LGBT, foi cancelada devido à falta de
financiamento e de visibilidade comercial (isto não ocorre só no Brasil) e relata
ainda a existência de lista de abaixo assinado contra o casamento gay numa
escola católica com crianças de 11 anos de idade.
Fala do Brasil também.
Há matérias informando as insinuações feitas pelo Bolsonaro em relação a
sexualidade da Presidente Dilma, a recente aprovação na comissão do Senado
Federal ao projeto que pretende criminalizar a homofobia, além da aprovação da
união estável no STF e que somos o país onde mais existe crimes motivados por
homofobia segundo GGB, além das ameaças sofridas pelo Deputado Jean Wyllys.
Não dá para retratar
tudo, são muitas notícias de vários locais. Vou exemplificar com alguns títulos, entre vários, mas lembro
que muitas delas não chegam a ser uma fresca novidade:
Hungria: a proibição do casamento gay é consagrada
na Constituição;
Filipinas: Um pai joga água fervendo em seu filho depois de saber que três de seus filhos eram gays;
Filipinas: Um pai joga água fervendo em seu filho depois de saber que três de seus filhos eram gays;
Conselho Quebec de gays e lésbicas protestam
contra uma lei transfóbica;
Presidente da Bielorrússia diz que "é melhor
ser ditador que viado!”;
Rússia: O Governador de São Petersburgo assinou uma lei que proíbe "propaganda homossexual";
O Senado suíço autoriza a adoção por homossexuais;
Libéria: Presidente Ellen Johnson Sirleaf,
premiada com Nobel da Paz, defendeu a lei homofóbica em vigor no seu país, tempos
depois, outra matéria, informando que ela voltou atrás;
Vários suicídios motivados no bullying por
homofobia nos EUA;
Lituânia fortalece suas leis homofóbicas;
Psiquiatra norte-americano, Robert Spitzer, reconhece
ter se enganado dizendo que poderia curar homossexualidade;
Irã: Um jovem iraniano acusado de "sodomia" é
enforcado no Irã e quatro outros ("Saadat Arefi", "Vahid
Akbari", "Javid Akbari" e "Houshmand Akbari") foram
também condenados à morte, pela mesma razão.Aguardam a execução.
Enfim, a sensação que
tenho ao visitar uma boate gay em outros países é a mesma que tive ao ler as
notícias internacionais acerca da situação dos homossexuais estrangeiros. Tudo
muito parecido. Com raras exceções, semelhantes problemas, idênticos anseios e os
mesmos discursos dos religiosos, políticos ou militantes de direitos.
Alguns países mais
adiantados, outros mais atrasados. Apesar da resistência, um maior engajamento
político e do movimento social nos EUA, resultados efetivos e eficazes na vizinha
Argentina e horrores no Irã, países africanos e mulçumanos de uma forma geral.
Mesmo os países ou locais
específicos que já reconheceram direitos ainda existem notícias ruins
recorrentes. O preconceito, neste sentido, é muito democrático.
O fato é que no mundo
somos notícia e as atenções estão voltadas para as questões de direitos humanos
LGBTs. Infelizmente, sempre com muita história de dor e resistência.
Neste aspecto, a
globalização tornou a luta em bloco e com interação, o que dá esperança da aceleração
das conquistas e transformações.
Nada que acontece num
lugar é indiferente ao outro. Existem locais que servem de modelo para a ala
que reconhecem direitos e outros que servem de exemplo para aquela que resistem.
A interferência vizinha
na política e sociedade civil é maior conforme a proximidade territorial e
cultural de determinados países. Isto fica patente quando se observa, com
algumas ressalvas, os países pelos seus continentes, como os europeus,
africanos e da América do norte. Infelizmente estamos incluídos na ressalva.
Fazemos parte do bloco do Mercosul, com vizinhos como Argentina e Uruguai que
estão adiantados no reconhecimento de direitos. O Brasil, apesar do papel mundial
que atualmente exerce, é uma triste exceção negativa.
As diferenças de
tratamentos dados aos LGBTs pelos continentes, e os países que o formam, entram
em choque frontal com o advento da globalização. A ONU, a Comunidade Europeia,
os EUA exercem um forte poder nestas discussões, os quais também são intensamente acionados pela sociedade civil global, esta inserida em alianças decorrentes das atuais redes sociais. A informação e o despertar chegam para
todos, mesmos os mais oprimidos, se infiltrando na raiz de todas as soberanias.
Portanto, qualquer conquista
ou ofensa aos direitos humanos, em algum lugar deste planeta, cria um fenômeno
que consiste num impacto, criando movimentos que se ampliam de forma diferentes,
desenvolvendo resultados diversos. A ação de cada indivíduo faz diferença para todos.
É o efeito borboleta LGBT.
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