Há anos atrás
assisti o filme 'Do Começo ao Fim', de Aluizio Abranches.
Encontrei hoje
alguns pessoas que se referiram ao filme com afetação e críticas.
Sempre que vamos assistir algum filme que já sabemos acerca
do que se trata, vamos com expectativas, evidente. Não foi diferente neste
caso.
O senso comum fez com que me preparasse para presenciar uma
história bastante escandalosa, por conta disto, esperava que a tarefa do filme fosse
me afetar pelo choque emocional vivido pelos personagens da telona, afinal, era
um filme que abordava a homossexualidade de dois irmãos que viviam uma relação
incestuosa.
Nada disto aconteceu. Essas expectativas se frustraram. O filme
não optou contar uma história na forma que pudesse chocar. Parece que muitos
que criticaram o filme foram na mesma expectativa e embalados pela mesma
decepção. Ficaram contaminados e limitados no olhar e sensações. Que pena.
É engraçado como pode o registro emocional e racional das
pessoas sabotar de tal forma um filme, apenas porque o mesmo segue uma trilha na contramão daquilo que elas esperam,
cegando-as e fechando as portas para todas as emoções. Chega a tal ponto que a 'expectativa' vira uma nítida e inegociável 'exigência'.
Basta se perguntar o que faltou no filme para estas pessoas.
Irmãos trepando e serem do mesmo sexo?
Mãe, pai e família?
Não, estava tudo isto lá. Irmãos que faziam sexo e tinham pai
e mãe.
Via-se, claramente, uma absoluta entrega dos atores Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcelos aos seus personagens. O comprometimento e fidelidade na atuação deles com aquilo que se propunham foi a marca registrada. Já Julia Lemmertz foi a quem mais brilhou, até porque era dela o papel limítrofe onde todas as emoções deveriam ser acentuadas, mas contidas, para ajuda na definição do rumo da história. Ela fez isto de forma impecável. Foi o melhor trabalho da atriz que assisti até o momento. Os dois pais, interpretados pelo Jean-Pierre Noher e Fábio Assunção, que representariam o 'modelo masculino', não tiveram o realce merecido para que os atores pudessem dividir com o papel da mãe o estrelato. Enfim, elenco de primeira e não há crítica a fazer de suas atuações.
A fotografia do filme do suiço Ueli Steirger é simplesmente sensacional. A sua beleza foi tão grande que não se sabia se a estética do filme era determinada pela fotografia ou pela direção. Na, verdade, evidente, atendeu pontualmente ao diretor, num casamento perfeito. O amor era belo, com luzes ensolaradas e não tenso ou sombrio. Era tudo as claras.
Via-se, claramente, uma absoluta entrega dos atores Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcelos aos seus personagens. O comprometimento e fidelidade na atuação deles com aquilo que se propunham foi a marca registrada. Já Julia Lemmertz foi a quem mais brilhou, até porque era dela o papel limítrofe onde todas as emoções deveriam ser acentuadas, mas contidas, para ajuda na definição do rumo da história. Ela fez isto de forma impecável. Foi o melhor trabalho da atriz que assisti até o momento. Os dois pais, interpretados pelo Jean-Pierre Noher e Fábio Assunção, que representariam o 'modelo masculino', não tiveram o realce merecido para que os atores pudessem dividir com o papel da mãe o estrelato. Enfim, elenco de primeira e não há crítica a fazer de suas atuações.
A fotografia do filme do suiço Ueli Steirger é simplesmente sensacional. A sua beleza foi tão grande que não se sabia se a estética do filme era determinada pela fotografia ou pela direção. Na, verdade, evidente, atendeu pontualmente ao diretor, num casamento perfeito. O amor era belo, com luzes ensolaradas e não tenso ou sombrio. Era tudo as claras.
A verdade é que não faltou nada. A frustração foi porque tinha
que ser escandaloso, e ainda que com final romântico, o importante é que fosse
contada de forma inaceitável até os últimos minutos.
Pasolini quando quis quebrar a erotização que levaram seus
filmes ao sucesso, colocou as cenas de sexo e personagens comendo merda com
pregos.
Aluizio Abranches ao mencionar o incesto, a homossexualidade
e família, conduziu a história com beleza, sensibilidade e principalmente amor.
Pasolini não pretendia que o foco do filme fosse sexo, mas
questões revolucionárias e sociais. Abranches também não me parece que tinha em
mente colocar o incesto e a homossexualidade como âmago.
Os dois fizeram a mesma coisa. Decepcionaram propositalmente as
expectativas.
Ao meu ver, Abranches quis apenas contar uma história sobre
liberdade, amor e livre arbítrio de forma palatável, na qual o viés da
identificação no filme não se desse pelo escândalo, mas pelo afeto maior que
ligava todos os personagens daquela específica família.
Não vi o diretor hasteando bandeira gay, expondo pais que
aceitaram com indiferença aquela relação incestuosa ou tentando dar desculpas
ou atenuantes para a sexualidade dos personagens.
É incrível como é difícil para as pessoas com conceitos tão
arraigados se despirem de seus preconceitos para perceberem que o filme vai
muito além da sexualidade.
Elas até entendem isto, mas não compreendem como não
colocar em primeiro plano o grande drama que para elas é o incesto? Essas
pessoas se esquecem de que o filme não é sobre elas, mas a história da vida de
outros personagens, que não seguem sua cartilha e nem roteiros, assim como na
vida. E é este exatamente o maior valor do filme, apresentar uma história além
da vida do espectador, com outros conceitos, opções e rumos.
O que cada um vai fazer com o que o filme proporciona não
cabe questionar, espera-se que refletir sobre as diferenças, enxergando em si
as suas próprias distinções dos demais, libertando-se do julgamento alheio em
busca da sua felicidade, que, provavelmente, não será a mesma do colega da
poltrona ao lado que assiste ao mesmo filme.
O foco do filme não é como todos enxergariam o incesto e a
homossexualidade ou o preço que pagariam os personagens por conta de tais
atributos, mas o que significava a liberdade e felicidade para aqueles
personagens.
Pelo que constatei as pessoas só queriam ver a primeira
parte, e como não foram atendidas, contaminadas por uma decepção e juízo de
valor, não conseguiram aproveitar e dar valor a verdadeira intenção do filme.
Eu já havia gostado, mas somente depois de ouvir falar mal do
filme, passei a dar mais valor ao mesmo. Ainda que falem mal e não queiram se
entregar ao filme, de alguma forma fizeram contato com esta faceta pessoal,
cheio de regras, porque abordava família, incesto e homossexualidade.
Anos se passaram, numa roda de conversa pessoas ainda desencavam o filme Do Começo Ao Fim demonstrando-se afetadas. São poucos os filmes que têm este poder.
Existe realidade além das fronteiras de cada um.
Viva a beleza, liberdade e provocação de Aluizio Abranches!
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