O presente blog se propõe a reflexão sobre os Direitos Humanos nas suas mais diversas manifestações e algumas amenidades.


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Em defesa da honra da Parada Gay de Juiz de Fora

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Importante trazer à luz questão importante trazida pelo Presidente da MGM - MOVIMENTO GAY DE MINAS em Nota Pública acerca do assassinato ocorrido no dia da Parada Gay ocorrida recentemente em Juiz de Fora.

Atente que não disse “na” Parada, mas “no dia” da Parada, pois o crime não ocorreu no local do evento, mas nas proximidades do mesmo.

Na realidade, o que foi largamente divulgado, inclusive, pelos jornais de repercussão nacional é que o crime ocorreu na Parada Gay de Juiz de Fora e isto não é verdade.

Nem perderia meu tempo para esclarecer isto porque bastaria uma leitura mais atenta para extrair a veracidade dos fatos dos noticiários, os quais revelam, ainda que indiretamente, que a vítima e nem o criminoso participavam do evento ou eram homossexuais.

A Parada não foi a causa da violência, nem mesmo serviu como cenário, apenas foi um chamariz levianamente aproveitado, como seria se o crime houvesse ocorrido próximo a uma procissão religiosa ou um desfile carnavalesco.

A questão que me chamou atenção na mencionada Nota Pública do MGM foi uma grave e justa denúncia descortinada: a cultura machista e violenta já cimentada em parte dos jovens de Juiz de Fora, sem atenção e devidos cuidados por parte da atuação do estado.

Gangues de jovens da periferia se tornaram algo banal no local. Inclusive, o rapaz assassinado pertenceria a uma gangue designada como “de Santa Luzia”.

“Questionar a completa e total ausência de políticas públicas para a juventude mineira. Esse é o debate a ser feito. A TV Panorama em seu telejornal da tarde de segunda-feira, dia 16/08/2010 fez uma retrospectiva de matérias que mostram depredações de ônibus urbanos e morte de outros adolescentes de gangues, em datas e locais onde a Parada Gay não se realiza”, afirma MARCO TRAJANO, Presidente do MOVIMENTO GAY DE MINAS, na aludida Nota.

Não é a toa que o tema do ano anterior da Parada Gay de Juiz de Fora foi exatamente “"Juiz de Fora, Juiz de Paz".

Portanto, a associação do crime a Parada Gay de Juiz de Fora é muito mais que uma distorção da realidade. É uma ofensa a honra do MGM, pois ela não só defende a paz e harmonia social como emprega imenso esforço para organizar uma Parada que possui por escopo ir contra exatamente essa cultura selvagem e de estereótipo machista que somente resulta em discriminação e violência contra os cidadãos lgbt.

O crime em questão é resultado dessa carga cultural pesadíssima de autoafirmação machista que conduzem jovens a se agruparem em gangues em busca do reconhecimento de “macho poderoso” entre os seus.

Insinuar que a Parada Gay de Juiz de Fora foi a responsável é criminoso e extremamente ofensivo. Seria o mesmo que dizer a vítima de um assalto violento foi responsável pelo roubo porque trazia consigo algo de valor.

Essa inversão de valores é inaceitável e só serve para sinalizar com cores mais fortes o risco que advém de tais jovens perdidos e violentos e o que são capazes de fazer com minoriais que não correspondam ao seu código cultural.

É a ausência de atuação do Estado em favor destes jovens em situação irregular, apesar das leis existentes e, mais ainda, inexistência de qualquer ordenamento jurídico que tenha caráter preventivo e proteja vítimas lgbts que possam se tornar alvo preferencial daqueles. Situação semelhante ocorreu com Alexandre Ivo, aquele adolescente assassinado por três jovens em São Gonçalo/RJ.
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Abaixo segue a Nota Pública, na íntegra:

"NOTA PUBLICA DO MOVIMENTO GAY DE MINAS

O Movimento Gay de Minas, a comunidade LGBT de Juiz de Fora e os heterossexuais simpatizantes presentes na Parada do Orgulho Gay de Juiz de Fora lamentam profundamente o assassinato do jovem Randerson de Paula Ferreira, de 15 anos, ocorrido próximo a concentração da Parada e, de acordo com o portal megaminas, pertencia a gangue de Santa Luzia.

O Movimento Gay de Minas seguiu as orientações da PMMG e da Prefeitura, mudou o trajeto da Parada do Orgulho Gay no ano de 2010 exatamente para minimizar a violência verificada entre essas gangues que perturbam a Parada do Orgulho Gay, o carnaval e transitam pelas ruas da cidade nas noites de domingo difundindo uma cultura de violência e territorialidade que vai na contra-mão do objetivo da Parada do Orgulho Gay que sempre se pautou pela paz, pelo combate à violência, à homofobia, ao racismo, pelo combate ao machismo e pelos direitos das mulheres.

O tema da Parada Gay de Juiz de Fora no ano de 2009 foi "Juiz de Fora, Juiz de Paz", exatamente para difundir nossa filosofia de vida que é a cidadania plena de toda a população de Juiz de Fora. Associar essa violência à nossa Parada Gay não apenas exala a homofobia que tanto combatemos mas, pior ainda, foge da real discussão que o fato demanda: a violência que se instalou entre a juventude de Juiz de Fora, chegando ao absurdo de termos gangues de adolescentes nos bairros de periferia de nosso município.

Questionar a completa e total ausência de políticas públicas para a juventude mineira. Esse é o debate a ser feito. A TV Panorama em seu telejornal da tarde de segunda-feira, dia 16/08/2010 fez uma retrospectiva de matérias que mostram depredações de ônibus urbanos e morte de outros adolescentes de gangues, em datas e locais onde a Parada Gay não se realiza.

O que leva um jovem de periferia, junto com outros membros de sua comunidade, a se dirigir ao centro da cidade onde se realizava a Parada do Orgulho Gay armados com arma de fogo? No nosso entender, a falta de perspectiva de vida, de estudo, de cultura, de cidadania a que nossa juventude esta relegada são os responsáveis pela total falta de controle desses jovens nos eventos públicos em nossa cidade.

O Estado insiste em não enxergar a juventude de Juiz de Fora empurrando-os cada vez mais para uma cultura de violência; insiste em empurrá-los para uma cultura machista onde as questões pessoais, de territorialidade se resolvem à bala, na dor, na falsa demonstração de poder que cada vez encastela o restante da população em condomínios fechados.

A incompetência estatal e a homofobia, demagogicamente, jogam sobre os ombros dos eventos populares e de cidadania como a Parada do Orgulho Gay a responsabilidade pela falta de políticas públicas para a juventude do estado de Minas Gerais.

Por estas razões o MGM vem a público lamentar profundamente a morte desse jovem adolescente e dizer que não tem poupado esforços para minimizar a violência urbana a que todos nós, homossexuais e heterossexuais de Juiz de Fora, estamos expostos.

O que precisamos é aprofundar a discussão e elevar o nível do debate sobre a formulação e implantação de uma política publica mineira para a juventude.

Cidadania para todos!!!!!!

MARCO TRAJANO
MOVIMENTO GAY DE MINAS"

4 comentários:

Oswaldo Braga disse...

Carlos,
Agradeço seu posicionamento solidário, em relação à Parada de JF e concordo plenamente com suas observações: transferir a responsabilidade da inépcia do estado em relação aos jovens para a Parada Gay ou o MGM é o mesmo que culpar a mini saia pelo estupro da mulher.
Parabéns pelo artigo. Estou divulgando na minha rede.

Anônimo disse...

Olá, tudo bem? Vc não vai falar sobre o episódio de A liga (Band) que abordou o preconceito contra homossexuais? O programa foi interessante.

Fernando

Anônimo disse...

Olá, tudo bem? Vc não vai falar sobre o episódio de A liga (Band) que abordou o preconceito contra homossexuais? O programa foi interessante.

Fernando

Carlos Alexandre Neves Lima disse...

Oswaldo,
Obrigado pela visita e não há o que agradecer, até porque não é so o MGM a vítima. Somos todos nós.
Abraços


Fernando,
Tentarei descobrir algo sobre o episódio mencionado por você para que possa fazer algum comentário.
Obrigado e abs,

Carlos Alexandre

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