O presente blog se propõe a reflexão sobre os Direitos Humanos nas suas mais diversas manifestações e algumas amenidades.


sábado, 16 de outubro de 2010

Ontem foi o dia DAS CARTAS

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Nada melhor para caracterizar a volta ao conservadorismo no segundo turno das eleições que trocar a moderna correspondência digital pela antiga “CARTA”.

Foi um tal de carta ontem para ninguém colocar defeito.

Dilma fez a sua carta para o povo evangélico.

A ABGLT também entrou na onda e fez sua carta aberta aos presidenciáveis.

Duas cartas incompletas e questionáveis, diga-se de passagem.

Dilma atendeu a exigência dos evangélicos e confirmou seus compromissos com os mesmos. Abominável! Como pode alguém que pretende ser Presidente da República se submeter ao paredão por um segmento fundamentalista da sociedade? Talvez as pessoas entendessem a gravidade deste ato se fosse uma instituição financeira exigindo alguma coisa de um candidato a presidência da república e este se rendesse a esta pressão.

A tal carta já tinha existido antes, quando houve aquele encontro com uma cambada de evangélicos. Mas eles querem assinaturas, termos, exigem mais e mais...

A turma do PT começa a cair em si, não à toa e nem porque tiveram um sopro de conscientização.

Esperava-se que depois daquele imenso alarde do acordo com os evangélicos, após TODOS os jornais escritos e falados anunciassem como principal notícia tal compromisso da Dilma contra o aborto e os gays os resultados de pesquisa mudassem.

Havia uma pesquisa anterior e existiram pesquisas de intenções de votos posteriores ao anúncio evangélico. O resultado não foi o que a campanha da Dilma no PT esperava. BEM FEITO…

Já havia dito aqui e repito, os votos dos evangélicos estão sendo supervalorizados e não são a decisão da balança neste segundo turno. Prova disto são as pesquisas.

Saiu ontem, portanto, depois do grande destaque na imprensa sobre o compromisso da Dilma de vetar tudo que criasse algum impacto para os evangélicos o seguinte resultado de pesquisa e considerações.

Reitero, para não deixar dúvida, a pesquisa foi feita nos dias 14 e 15 de outubro com 3.281 eleitores de 202 municípios brasileiros e a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O resultado:

vermelho Dilma e Azul Serra

"Em votos totais, a petista registrou uma leve oscilação para baixo, passando de 48% para 47%, enquanto o tucano se manteve com 41%.

Para o Datafolha, essa oscilação se explica por uma queda de 3 pontos percentuais entre o eleitorado de menor escolaridade, que representa 47% do total de eleitores no Brasil.

RELIGIÃO

Os temas religiosos que dominaram esta etapa da campanha, como aborto e casamento homossexual, parecem não ter influenciado o eleitorado.

Entre os católicos, por exemplo, que são maioria na população brasileira, a ex-ministra tem 51% contra 38% do ex-governador de São Paulo, números semelhantes aos registrados na semana passada (o tucano oscilou um ponto para cima).

No grupo de evangélicos não pentecostais a candidata petista cai quatro pontos, enquanto Serra oscila positivamente dois pontos. Essa faixa representa 6% do eleitorado.

Curiosamente, a maior movimentação ocorre justamente no grupo dos que se declaram sem religião, em que Dilma caiu cinco pontos percentuais, e Serra cresceu cinco (a petista ainda vence por 45% a 40%). O grupo também representa 6% do eleitorado."

Por este motivo a segunda carta exigida pelos evangélicos não veio como queriam. Foi mais “genérica”, digamos assim.

O PT está começando a entender que está perdendo as suas características e credibilidade com outros setores da sociedade.

Neste ponto, temos que agradecer a campanha Tucana que de forma oportunista, no dia seguinte a primeira declaração da Dilma, fez o Serra falar em remédios para AIDS e sobre os direitos das mulheres. Ou seja, sem dizer uma palavra no sentido oposto da candidata Dilma aproveitou o descontentamento de muitos homossexuais e mulheres para se fazer presente nestes segmentos. Bingo.

Uma observação importante, para que não seja induzido a erro pelo que antes me referi: a impressionante campanha que Silas Malafaia faz contra a Dilma e a favor do Serra no seu site quase conseguiu a proeza de me convencer a votar na candidata do PT. Não defendo aqui nenhum dos dois, apenas os interesses LGBTs.

A segunda carta de Dilma, mais política e diplomática, tentou agradar a ambos os segmentos, evangélicos e LGBTs. Reafirma ser contra o aborto, mas não fala de forma tão especifica como gostariam os evangélicos sobre casamento homossexual e PLC 122 (lei que criminaliza a homofobia). E um sinal claro que a postura adotada já não é tão firme quanto antes.

Aqueles eleitores que não são fundamentalistas religiosos estão ficando apavorados com os compromissos religiosos sustentados publicamente pela Dilma, o que espertamente não é feito da mesma forma pelo Serra, apesar de ser aparentemente de um partido mais conservador. A última pesquisa mostrou isto.

E a carta da ABGLT? Lamentável. Sabia-se que a imprensa publicaria sua manifestação, pois é a maior entidade nacional LGBT e, principalmente, porque apesar de todo horror público até agora permaneceu omissa, sem qualquer pronunciamento público. E o que veio foi uma cartinha política que quer ficar bem com os dois candidatos.

A carta da AGBLT foi bonitinha,
lembra o histórico amigável dos dois partidos e candidatos e pede que a discussão que envolve o segundo turno seja mais amplo, sem a interferência de setores conservadores. A ABGLT ficará bem na foto com ambos.

Mas foi como disse ontem, tirando alguns aspectos que envolvem o PLC 122, para a ABGLT está tudo azul, afinal ambos os candidatos estão de acordo com sua pretensão de “união civil”. Quem ganhar provavelmente continuará a colocar dinheiro em congressos e projetos junto as ONGs de sua rede. É necessário sim, mas não pode a instituição ser tão política.

Como não estou pelo conservadorismo encaminhei uma correspondência eletrônica para o Presidente da ABGLT, Toni Reis, que não foi respondida, com os seguintes termos:


"Caro Toni Reis,

Nada justifica a omissão da ABGLT nesta carta acerca da má-fé pública dos dois candidatos que fazem retóricas sobre possível casamento de homossexuais ser sacramento e dizer respeito exclusivamente a religião.

A desculpa esfarrapada e pública dos candidatos são justificadas pelos interesses políticos com os religiosos, mas qual a desculpa da ABGLT? Afinal, ao se omitir e aceitar silenciosamente o que tais candidatos mentirosamente falam em público, fortalece a formação da opinião pública a respeito da questão, acentuando cada vez mais a mistura de direito civil LGBT com religião. Pior, a ABGLT está compactuando com eles CONTRA OS LGBTs.

Ainda que sobre o casamento civil não tenha existido qualquer deliberação das instâncias da instituição. a verdade é que pelo menos 112 direitos negados aos casais homossexuais só serão reconhecidos aos LGBTs se os direitos decorrentes do "casamento civil" forem reconhecidos. Se manifestar sobre isto, ao meu ver, teria sido uma obrigação ética e moral da ABGLT, ainda que esclarecesse que sobre isto não há deliberação pelos seus associados e nem pretensão de luta para sua aprovação.
"

Portanto, queridos, se é de seu desejo ser ouvido sugiro outros meios (blogs, redes sociais e etc), melhor ainda, fique na moda e envie também a sua CARTA para coluna dos leitores dos jornais, porque estas ONGs só representam os interesses delas mesmos. Os nossos parece que não entram em questão.
/
PS: Houve resposta do Presidente da ABGLT que informou que suas afiliadas haviam aprovado a luta pela União Estável e, como presidente, se detinha ao que foi aprovado pelo colegiado.

7 comentários:

Flávio Julio disse...

Prezado Carlos, você como advogado sabe que há uma enorme diferença entre o casamento e união estável. Claro que os efeitos da união civil para os LGBT significaria um avanço, no entanto não entendo o alarde que se faz em torno do Casamento CIVIL. Nossa constituição e inúmeras leis a mencionam e a carta magna ainda faz uma separação entre os casamentos religioso e civil. Históricamente o casamento religioso nunca foi isso que os fundamentalistas religiosos pregoam. Era nada mais e nada menos que um pacto comercial, ganhando novos significados através dos tempos. Mas não vou discutir o passado agora, embora ele seja importante para compreender o presente. Lamento a postura da ABGLT que se demonstra uma ong política e ignorante e ainda desorganizada, haja visto o papel lamentável em alguns momentos como na defesa pelo PL 122/06, onde o satã Malafaia deu seu showzinho. As vezes me pergunto se a ABGLT está apta e possui inteligência e conhecimento legal o suficiente para representar o grupo LGBT. Outro papel lamentável e que repúdio é o do Grupo Arco-íris, aqui no Rio e seus adiamentos da parada que deveria ser política e reinvidicatória. Mas porque isso??? Será que é para não perder o financiamento do governo??? Me pergunto... Tenho certeza de que os Gogo boy e as Drags estarão lá, enfeitando a festa e dançando ao alto som da música de boate. E a justificação para mostrar palhaços e homens semi-nus será de que "os gays tem que chamar a atenção do sociedade", como sempre ouço. Essa atenção, particularmente, é dispensável. É por isso que a classe conservadora ganha forças e crédito quando dizem que os gay são um bando de pervertidos que só pensam em sexo. Acredito que o Índio, vice do Serra, seria mais feliz se dissesse que gays saem de casa para transar embaixo da bandeira do arco-íris. Se aquela bandeira filmasse, o filme dos LGBT estaria queimado para sempre...

Flávio Julio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Papai Gay disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Papai Gay disse...

Pois é... Deve ser moda entre as associações gays não responder. A ABRAGAY, a qual você faz parte, fez o mesmo comigo. Segue a minnha carta (email, claro):
Olá, descobri o blog de vcs através do blog do Carlos Alexandre (Direitos Fundamentais LGBT) e gostaria de me associar. Tenho um blog chamado "Papai Gay" onde discuto vários assuntos do mundo LGBT com uma legião de seguidores fiéis, que estão me cobrando uma maior participação na causa LGBT. Também sou cineasta e ator e fiz um filme chamado "Tunel Russo" com mais de 40 mil acessos no you tube que fala sobre a perseguição e os maus tratos aos gays que trocam afetos em público por parte da polícia. Sou também fotógrafo de atores e modelos. Já fui convidado para ir ao Super Pop com meu filho para contar minha história mas recusei. Sou muito exigente, não quero que meus argumentos sejam interpretados como vulgares ou sensacionalistas, como é esse programa que citei. Quero mesmo fazer uma diferença, estou cada vez mais abordando assuntos políticos no meu blog e acho que chegou a hora de me engajar mais. Gostaria muito de receber a ficha de inscrição.

Atenciosamente ,

links:

Papai Gay blog

Tunel Russo, o filme (19 min)

Mau Couti Photography

Papai Gay disse...

O mesmo, eu quis dizer que não obtive resposta, só para esclarecer... Envia dia 14...

Flávio Julio disse...

Papay Gay, não sou defensor de qualquer ong, no entanto será que você não está sendo um pouco exigente com o prazo de resposta da carta??? rss. Brincadeira, mas vejamos você enviou no dia 14 e eles teriam apenas o dia 14 e 15 (último dia útil, sexta-feira) para responder. Dias 16 e 17 não contam, pois é final de semana. Tente aguardar um pouco mais. Sou funcionário público e conheço uma série de variáveis que podem influenciar em uma resposta. Um forte abraço!!!

Anônimo disse...

Se os ativistas gays acham que o vot evangélicoestá sendo supervalorizado, lamento informar que a onda de conservadorismo está tomando conta do mundo e só os ativistas parecem não enxergar isto.
...
Sugiro analisar a situação mundial.
...
Segundo analistas internacionais, mês que vem (novembro), os republicanos devem conseguir maioria na Congresso dos EUA. São justamente eles que são osmais conservadores.
...
Taltendência se espalha por países da Europa.
...
Aqui no Brasil, segundo o IBGE, os evangélicos serão 50% da população brasileira em 2020 (faltam apenas 10 anos).
...
Acho que os ativistas vivem no mundo da lua e não querem enxergar a realidade.
...
Se não acreditam, nada melhor do que esperar o futuro chegar.

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