O presente blog se propõe a reflexão sobre os Direitos Humanos nas suas mais diversas manifestações e algumas amenidades.


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Por que gays não votam em gays?

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Em ano de eleições os temas das Paradas Gays por todo Brasil tem sido, invariavelmente, no sentido de convidar a todos LGBTs terem conscientização na hora de votar.

O site da ABGLT tem divulgado a relação dos candidatos de todo país que concorrem, em 2010, às vagas de Deputado Estadual, Deputado Federal, Governador, Senador e Presidente da República que assinaram um compromisso com a instituição, que se eleitos, defenderiam os direitos LGBTs. Entre eles existem candidatos LGBTs e heterossexuais aliados.

Nas últimas eleições municipais – no ano de 2008 – de 80 candidatos a vereadores pelo Brasil, de orientação sexual LGBT, apenas 06 candidatos conseguiram se eleger, ou seja, algo em torno de 0,75%, bem distante do número de votos esperados daqueles especulados 10% da população brasileira:

BA - Léo Kret - PR - Vereadora - T

ES - Moacyr Sélia-Moa -PR - Vereadora - T

MA - José Itaparandi - PTB - Vereador - G

MG - Isaías Martins de Oliveira - PV - Vereador - T

MG - Sander Simaglio - PV - Vereador - G

SC - Tem Vilson José Porcíncula - PP - Vereador - G

Donde se extrai que o número de candidatos LGBTs é mínimo e ainda extremamente mais inferior o número daqueles que conseguiram se eleger.

Dos candidatos aliados heterossexuais se candidataram 138 pessoas, sendo que conseguiram se eleger 29, por conseguinte, mais de 21% dos candidatos.

Mesmo comparando os votos destinados aos LGBTs (0,75%) com os votos dados aos aliados heterossexuais (21,00%) revela-se uma grande diferença.

Por que gays não votam em gays?

Algumas pessoas alegam que seria em razão da ‘homofobia internalizada’. Homofobia internalizada significa que o sujeito passou pela vida apreendendo valores negativos em relação aos gays e que, ainda que se assuma, tais conceitos estão tão sedimentados que traz consigo inconscientemente estes valores, para si e para os outros que sejam igualmente gays. Portanto, é o fruto da estigmatização social, podendo se converter num ódio contra si próprio, o que, inconscientemente, resultaria que gays se sintam ‘inferiores’ e julguem como ‘menos’ também outros gays.

Não que inexista a homofobia internalizada e que não considere ela um fator que contribua para que gays não votem em gays, mas considero esta conclusão genérica uma desculpa simplista.

Não acho que a homofobia internalizada seja a principal razão pela qual gay não vota em gay.

No meu entender, se chegasse ao conhecimento de um eleitor gay que exista um candidato com estofa, conhecimento e seja bom o suficiente para lhe representar e exercer um cargo político, o gay votaria em candidato gay.

Mal ou bem, a média dos eleitores quer votar em alguém que seja “bom”, que realmente acredite e saiba que sua proposta o representará. Se existir um candidato gay que o eleitor confie que seja assim, ele será votado pelos LGBTs e, inclusive, pelos heterossexuais.

O problema vem no “mas”, e esse sempre surge...

Mas, apesar de tal desejo, culturalmente o eleitor brasileiro, inclusive os LGBTs, não se dá o trabalho de buscar um candidato que atenda as suas expectativas, dentro do perfil idealizado. Escolhe aquele que lhe vem à mão, que os dados lhes sejam facilmente fornecidos e, neste 'reduzido universo', exista alguma empatia. A falta de esforço para escolher candidatos faz com que seja suficiente para eleger aquele minimamente conhecido pelo mesmo.

O candidato que ouvimos suas posições pela televisão, rádio ou outro veículo qualquer, o político que aparece mais na mídia, possuir mais propagandas ou mesmo que mais se ouvir falar no trabalho, residência ou lazer acabam ganhando, por falta de outra opção, o voto “consciente” do eleitor.

Não foi difícil eleger a Deputado Federal, nas últimas eleições em São Paulo, Clodovil, apesar de gay. Aliás, provavelmente seu eleitorado foi quase por unanimidade heterossexual. Os seus eleitores certamente adoravam suas críticas ácidas em seu programa de televisão. Isto bastava para a identificação e o voto. O eleitor conhecia e gostava daquilo que o candidato representava para ele. O mesmo ocorrerá com jogadores de futebol e outros que a mídia sempre dá destaque. E este voto, mesmo que muitos estejam esperneando, será tido como ‘consciente’, pois o eleitor do tal jogador é um leitor e expectador de tudo aquilo que o mesmo fala, além disto, ele não conhece a maioria dos outros candidatos.

Não é à toa que o eleitorado brasileiro aplaude de pé a ‘Ficha Limpa’. Ele quer o candidato limpo, só não deseja ter que procurar quem o seja.

Se de um lado o eleitor não busca a cartela de candidatos existentes com todos os seus dados e qualificações para escolher democraticamente aquele que realmente seja o seu “melhor”, por outro lado, aqui especialmente falando dos LGBT, estes candidatos também não conseguem realmente se fazer anunciar para os seus potenciais eleitores.

As ONGs LGBTs locais deveriam servir de ponte, mas mesmo elas possuem um número absurdamente ínfimo de associados.

As Paradas Gays, apesar de alguns esforços para tentar levar a conscientização política, representam antes de qualquer coisa, no imaginário daqueles lgbts que as frequentam, uma grande festa. Nem gosto de imaginar em qual colocação de importância estaria a política para aquelas milhões de pessoas que estão presentes a Parada Gay de São Paulo, por exemplo.

No Rio de Janeiro nem há esta preocupação. A coordenação da Parada Gay no Rio resolveu transferir a Parada para após as eleições e é, diga-se de passagem, o local onde possui como candidato ao Senado Federal um dos maiores inimigos dos direitos LGBTs de todo o país, Marcelo Crivella.

É fácil constatar a razão pela qual o casamento homossexual foi aprovado na Argentina. Lá, diferente daqui, houve um grande levante participativo. Inúmeros vídeos, campanhas publicitárias com apoio de artistas famosos, esclarecimentos públicos que os conduziram a conscientização, a mobilização popular e aprovação da lei.

Na minha modesta forma de pensar a razão pela qual gay não vota em gay nas eleições ocorre, principalmente, por falta do imprescindível acesso à informação, com real divulgação junto ao público LGBT, fora dos muros da minguada militância.

A própria página da ABGLT, única a informar candidatos comprometidos com a causa, reforça esse hábito ignorante do eleitor brasileiro. Lá não possui o curriculo do candidato, apenas se é lgbt ou aliado. O LGBT infelizmente que não deseja pesquisar sobre o candidato, e apesar da sua preguiça, dificilmente votará em algum candidato apenas por conta da sua orientação sexual. Entre um candidato heterossexual de quem ouviu alguma coisa e um ilustre desconhecido LGBT, a tendência será votar naquele que possui alguma referência, ainda que seja absolutamente rasa.

Os LGBTs, até pela necessidade, precisam amadurecer a importância da cidadania e aprenderem, ainda que antes da sociedade em geral, a ultrapassar os costumes culturais, já enraizados, que os tornam inertes.

Mas mesmo sem desconsiderar a péssima cultura do eleitor brasileiro de não buscar essas informações e apesar de algumas ações pontuais, as Associações LGBTs têm sido absolutamente incompetentes. São partidárias quando jamais deveriam ser e se colocam propositalmente inacessíveis ao LGBT “não militante”, para manter sempre os mesmos no ‘pseudo poder’. Não se dão ao trabalho para atingir e efetivamente impulsionar a população de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais. Essas associações esqueceram que não se bastam ou preferem qua assim seja por razões que não atendem as verdadeiras prioridades da população LGBT.

/Imagem: Parou Tudo.com

3 comentários:

Anônimo disse...

a cupla disso é o religition...confira tudo a denúncia:
http://telacrente.org/2010/09/valdemiro-santiago-abencoa-seu-amiguinho-ivo-cassol/

Dorothy Lavigne disse...

Posso fazer uma provocação?
Qtos candidatos assumidamente LGBTs são apoiados diretamente pelos movimento organizado?

Aqui no meu estado, sincermante, não vi as ONGs apoiarem nenhum.

Ou seja, para as instituições, a fato da pessoa se gay, não é a principal qualidade.

Qual seria?

Bjookkkkssssss

Carlos Alexandre Neves Lima disse...

Dorothy,

Você mora em Curitiba, local onde tudo ocorre no que diz respeito ao PODER da ABGLT...

As vezes me atrevo a questionar o que passariam a fazer os integrantes da militancia organizada se nossos direitos fossem conquistados.

Sua provocação procede. Não posso afirmar qual a principal qualidade, mas também fico especulando qual seria...

bjs
Carlos Alexandre

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