A posição adotada pela Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que não só defendeu publicamente a aprovação do casamento homossexual, condenando a reação beligerante da Igreja, como ainda se valeu de seu poder para forçar que sua base governista no Senado aprovasse este projeto pode ser um fator de pressão para que no Brasil também se comece a cobrar do Presidente Lula e especialmente dos candidatos a Presidência uma postura semelhante.
É que através do exemplo político visto na Argentina os brasileiros poderão chegar a uma conclusão óbvia: um Presidente da República que possua uma boa base governista no Congresso Nacional consegue fazer que qualquer projeto de seu interesse passe. Lula durante todos estes anos teve esse lastro, mas diferente da Cristina Kirchner, jamais comprou a briga com as instituições religiosas por essa minoria, pelo oposto, até se aliou a alguns partidos fundamentalistas e ainda virou amigo intimo de alguns que são os grandes vilões dos direitos dos homossexuais, como o Senador Marcelo Crivella. Lula fez promessas, agrados e acenos para o Movimento LGBT, mas nunca passou das alegadas boas intenções e algumas ações no âmbito da administração pública.
A candidata que se apresenta como sucessora do Lula, Dilma Roussef, já deu sinais ainda menos amigáveis e antes mesmo de chegar a uma fase mais próxima do final do processo eleitoral já possui veiculadas nos noticiários promessas realizadas para os fundamentalistas utilizando como moeda de troca a garantia que determinados direitos LGBTs não ocorreriam em sua campanha e governo.
Não só para Dilma Roussef, como para todos os demais candidatos a Presidência da República, até então estava bem fácil enrolar o eleitorado deste segmento das minorias sociais. Bastava se valerem dos argumentos das próprias entidades religiosas, confundindo casamento civil com o religioso, como se tudo fosse uma coisa só, apesar da enfadonha conversa fiada de respeito aos direitos civis dos homossexuais brasileiros, fazendo parecer para os incautos que apenas se tratava de uma eventual confusão e despreparo.
O anúncio da aprovação do casamento civil dos homossexuais na Argentina não vai mais permitir esse teatro. Não tem mais como os leigos deixarem de perceber que existe uma diferença entre o casamento civil e o religioso.
A reportagem do ‘Jornal da Globo’ desta quinta-feira sobre a aprovação do casamento homossexual na Argentina também abordou sobre os comentaristass políticos argentinos que se pronunciaram acerca das consequências da forte influência que tiveram os Kirchner para a aprovação da referida lei e o ônus que terão daqui a aproximadamente um ano quando ocorrerão novas eleições, considerando a forte controle da Igreja no interior do país.
Os mais atentos a este tipo de reportagem concluirão igualmente que no Brasil não há um Presidente da República, e nem se tem a expectativa de um novo, que se disponha a lutar explicitamente da mesma forma que a Presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Mas a cobrança e pedido de posições poderão surgir, a partir de então.
A militância brasileira precisa urgentemente fazer com que os noticiários que decorreram da aprovação do casamento homossexual na Argentina não se transformem - amanhã mesmo - nos papéis que servem de embrulho para os peixes comprados na feira, deixando que um fato ocorrido aqui do lado Brasil, num país culturalmente tão religioso e machista quanto o nosso, seja esquecido. É isto que os fundamentalistas religiosos e políticos que proliferam deste segmento desejam, tornar este fato e conquista bem distantes da nossa realidade, inclusive, de nossos pensamentos.
E algumas perguntas que não querem se calar:
/
Qual a posição no ranking mundial da Argentina em termos de população em sua Parada Gay?
Porque será que o Brasil possui a maior Parada Gay do mundo e não possui NENHUMA lei sequer aprovada até hoje no Congresso Nacional?
Quais foram as considerações do Presidente Lula e dos candidatos a Presidência sobre a aprovação do casamento gay na Argentina?
Afinal, onde estamos errando?
Porque será que o Brasil possui a maior Parada Gay do mundo e não possui NENHUMA lei sequer aprovada até hoje no Congresso Nacional?
Quais foram as considerações do Presidente Lula e dos candidatos a Presidência sobre a aprovação do casamento gay na Argentina?
Afinal, onde estamos errando?
A Presidente da Argentina, Cristina Kirchner, meus respeitos, aplausos, cumprimento e admiração.
Ao Exmo. Sr. Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, meu pranto e decepção.
3 comentários:
Veja esse link sobre o turismo e o casamento gay na argentina.
http://viagem.uol.com.br/ultnot/efe/2010/07/17/com-lei-de-casamento-turismo-gay-ganha-forca-na-argentina.jhtm
Pois é querido! Onde estamos errando? É mesmo revoltante!
Mas a Argentina, ao contrário que pensa a maioria, é um país de cabeça aberta e claro que a presidente colabora e muito para esta abertura!
Gostei muito desse post! Muito mesmo!
Quanto ao Lula, a Dilma e o Brasil que vem pela frente? Não sei não... mas está com cara de que as coisas ainda vão piorar e muito...
É mesmo de chorar!
Beijo
Cristina Brasil
Oi Djalma,
Tudo bem contigo?
Depois vou dar uma olhada no link indicado. Faz todo sentido!
Abração
Cristina,
Tenho a mesmíssima impressão que você. Aqui, ao contrário da Argentina, com esses candidatos que estão aí, tende só a piorar.
Temos que deixar de chorar e começar a lutar, frontalmente.
Beijos
Carlos Alexandre
Postar um comentário