Hoje é dia da N. S. da Conceição e fiquei sensibilizado com a cerimônia que assisti na Paróquia Nossa Senhora da Conceição da Gávea.
Escolhi ir aquela igreja despretensiosamente apenas porque era do lado de casa e sendo a igreja de N. Senhora da Conceição me pareceu coerente ir na Igreja que leva o seu nome, além de ser padroeira do bairro. Linda missa, coral deslumbrante e ainda o padre contou a história daquela igreja que ficou pronta em 1852, tempos depois sofreu um sério incêndio, salvando-se apenas a imagem de N.S.Conceição. Aquela imagem, aquela igreja, aquele ritual e cânticos, ganharam um sentido especial me deixando leve, com um sentimento de encontro, conforto e felicidade. Me emocionei diversas vezes.
Quem me conhece sabe, sou católico apostólico romano, quer queiram ou não alguns amigos e clérigos. Discordo frontalmente de algumas posições adotadas pela cúria e, na qualidade de militante de direitos fundamentais e advogado, não pensaria duas vezes de pessoalmente brigar judicialmente com a igreja.
Considero que a Igreja se assemelha muito ao Estado, cheio de dogmas, leis e principalmente de políticas próprias. Aqueles que estão no poder da Igreja tentam calar ou se sobrepor àqueles que não concordam com algumas de suas posições internas. E elas mudam dentro da Igreja, a história revela isto e exemplos não faltam. Frequento a Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, e também o Mosteiro das Clarissas na Gávea e NUNCA ouvi o padre Jorjão ou Omar, tampouco o padre alemão do Mosteiro, mencionarem ou se posicionarem negativamente sobre a homossexualidade. Se falassem, me sentiria aviltado e não seria possível manter minha permanência no local, procuraria outra igreja ou missa celebrada por outro padre. Mas, honestamente, isto nunca ocorreu.
Por incrível que pareça foi assistindo as missas no Convento de Santo Antonio que aprendi que o sentimento de culpa não pertence a Deus e que Ele não deseja que ninguém o tenha. Deus quer e espera que sejamos felizes. Foi lá, no Convento de Santo Antonio, do Largo da Carioca, que isto ocorreu e não no consultório da minha terapeuta.
Também através da mesma igreja que me deparei com alguns dos meus próprios preconceitos. Tenho meus pés atrás com o popular padre Marcelo, e quando surgiu um novo padre popular, Fábio de Melo, que cantava, era bonito e também aparecia na televisão, meu sentimento foi de rejeição e desprezo. E com este sentimento, aliado a total desconfiança, assisti a sua entrevista para Marilia Gabriela e Jô Soares. Que surpresa! Que agradável surpresa! Um padre da Igreja Católica Apostólica Romana com o qual me identifiquei substancialmente.
Quando levanto a voz e aponto meu dedo para a Igreja Católica ou a Universal Reino de Deus, não estou questionando a fé, o amor a Deus, mas alguns de seus dogmas, seus preconceitos asquerosos, a falta de amor ao próximo e o descumprimento a regra maior que nos foi dada. Para Deus todos somos iguais. Para o Papa Bento XVI, alguns arcebispos e a maioria dos evangélicos, essa lição parece que ainda não foi compreendida, pior, julgam os semelhantes sem pudor. Problema deles, desde que não aponte o dedo para nós.
Porque falo sobre algo pessoal? Apenas para esclarecer que reconheço fundamentalmente o direito do indíviduo a seguir sua fé, a ter sua religião, ou não. Mas isto jamais significará que esse direito se sobrepõe ao direito da dignidade da pessoa humana, da igualdade e do respeito. E tais direitos não necessariamente são conflituosos. Reconhecer direitos fundamentais dos LGBTs jamais significou desmerecer ou desrespeitar o direito a fé de quem quer que seja. Assistir os senadores evangélicos que tiveram acesso a todas as informações afirmarem o oposto é ultrajante e duplamente desrespeitoso. Ninguém quer "arrancar" páginas da bíblia ou prender padres e pastores por professarem seus dogmas em suas igrejas. Óbvio que igreja não é local de militancia política ou lgbt, assim como não é o Senado o púlpito da Igreja, para que senadores justifiquem a discriminação de lgbts para NEGAR DIREITOS FUNDAMENTAIS que o Estado confere, em tese, a todos os cidadãos. O Estado é Laico e isto os políticos fundamentalistas religiosos não podem se opor.
Em termo popular, "cada um no seu quadrado".
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Vou postar abaixo uma PARTE da mencionada entrevista do padre Fábio de Melo para Marília Gabriela, de onde, aliás, extrai o título deste texto. Mas sugiro que assistam integralmente a entrevista no youtube:
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