
"Sexta-feira, Novembro 18, 2005
PODE ME CHAMAR DE GAY
Fabrício Carpinejar
Pode me chamar de gay, não está me ofendendo. Pode me chamar de gay, é um elogio. Pode me chamar de gay, apesar de ser heterossexual, não me importo de ser confundido. Ser gay me favorece, me amplia, me liberta dos condicionamentos. Não é um julgamento, é uma referência. Pode me chamar de gay, não me sinto desaforado, não me sinto incomodado, não me sinto diminuído, não me sinto constrangido. Pode me chamar de gay, está dizendo que sou inteligente. Está dizendo que converso com ênfase. Está dizendo que sou sensível. Pode me chamar de gay. Está dizendo que me preocupo com os detalhes. Está dizendo que dou água para as samambaias. Está dizendo que me preocupo com a vaidade. Está dizendo que me preocupo com a verdade. Pode me chamar de gay. Está dizendo que guardo segredo. Está dizendo que me importo com as palavras que não foram ditas. Está dizendo que tenho senso de humor. Está dizendo que sou carente pelo futuro. Está dizendo que sei escolher as roupas. Pode me chamar de gay. Está dizendo que cuido do corpo, afino as cordas dos traços. Está dizendo que falo sobre sexo sem vergonha. Está dizendo que danço levantando os braços. Pode me chamar de gay. Está dizendo que choro sem o consolo dos lenços. Está dizendo que meus pesadelos passaram na infância. Está dizendo que dobro toalha de mesa como se fosse um pijama de seda. Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou aberto e me livrei dos preconceitos. Está dizendo que posso andar de mãos dadas com os anéis. Está dizendo que assisto a um filme para me organizar no escuro. Pode me chamar de gay. Está dizendo que reinventei minha sexualidade, reinventei meus princípios, reinventei meu rosto de noite. Pode me chamar de gay. Está dizendo que não morri no ventre, na cor da íris, no castanho dos cílios. Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou o melhor amigo da mulher, que aceno ao máximo no aeroporto, que chamo o táxi com grito. Pode me chamar de gay. Está dizendo que me importo com o sofrimento do outro, com a rejeição, com o medo do isolamento. Está dizendo que não tolero a omissão, a inveja, o rancor. Pode me chamar de gay. Está dizendo que vou esperar sua primeira garfada antes de comer. Está dizendo que não palito os dentes. Está dizendo que desabafo os sentimentos diante de um copo de vinho. Pode me chamar de gay gay. Está dizendo que sou generoso com as perdas, que não economizo elogios, que coleciono sapatos. Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou educado, que sou espontâneo, que estou vivo para não me reprimir na hora de escrever. Pode me chamar de gay. Que seja bem alto. A fragilidade do vidro nasce da força e do ímpeto do fogo."
Fonte: foto e poema do site indicado no texto.
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Um comentário:
Carlos, obrigado pelo seu comentário.
Crianças, deficientes e idosos, pelas próprias condições absolutamente particulares – etárias e até mesmo físicas - a que estão sujeitos, merecem, sim, um tratamento diferenciado na legislação para impedir abusos e equiparar oportunidades.
Já mulheres, homossexuais, negros, brancos, pardos, magros, gordos, altos e baixos, na minha visão, não são portadores de nenhuma característica objetiva e legítima que justifique a atribuição de direitos e garantias “especiais” para os mesmos. O fato de alguém nascer homem ou mulher não deveria dar mais ou menos direitos a ninguém. E os casos de violência doméstica contra homens, a Lei Maria da Penha não diz nada contra isso?!
O que um gay tem a mais que um cidadão heterossexual? Será que ele é incapaz de, no caso de uma agressão ou ofensa contra sua dignidade, acionar os órgãos competentes da mesma forma que faz um heterossexual?
Além do mais, como definir juridicamente um heterossexual ou um homossexual? Todos, no fundo, não seriam bissexuais, alguns com uma inclinação/prática mais acentuada para um lado ou outro?
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