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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Morre JOSÉ SARAMAGO, SIMPATIZANTE DA CAUSA LGBT, ateu, que classificava a bíblia como “um manual de maus costumes”

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Nasceu na província do Ribatejo, no dia 16 de novembro, embora o registro oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, era membro do Partido Comunista Português e foi diretor do Diário de Notícias. Foi também, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado com a espanhola Pilar del Río, José Saramago morreu aos 87 anos. Ele estava em sua casa (18/06), em Lanzarota, ilhas Canárias, devido uma múltipla falha orgânica.

Considerado como um dos maiores escritores da atualidade, Saramago dedicou boa parte de sua vida a pesquisa e produção literária. Nos últimos anos, passou a publicar obras condenando Deus e desacreditando sua existência. Antes de falecer, José Saramago apoiou o Movimento pela legalização do casamento gay em Portugal e teve oportunidade de participar desta conquista.
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No livro “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, o autor (que se dizia ateu) afirma que Jesus era casado com Maria Madalena e que a descrição feita pelos evangelistas não seguiu à risca a verdade dos fatos. Por ocasião do lançamento do seu novo livro “Caim”, em 2009, o autor disse que não se pode “confiar em Deus”. Disse ainda que Deus não existe e “que ele foi inventado pelo homem”. No livro, defende Caim e condena Deus.

José Saramago classifica a Bíblia como "um manual de maus costumes" e "um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana"

"Sobre o livro sagrado, eu costumo dizer: lê a Bíblia e perde a fé!", disse o escritor, numa entrevista concedida à Lusa, a propósito do lançamento mundial do seu novo livro, intitulado Caim, este domingo, em Penafiel.
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"A Bíblia passou mil anos, dezenas de gerações, a ser escrita, mas sempre sob a dominante de um Deus cruel, invejoso e insuportável. É uma loucura!", afirma o Nobel da Literatura de 1998, para quem não existe nada de divino na Bíblia, nem no Corão.
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Para o Nobel da Literatura, o seu livro não escandalizaria os católicos, mas admitiu que poderia gerar reacções entre os judeus.

"Na Igreja Católica não vai causar problemas porque os católicos não lêem a Bíblia, só a hierarquia, e eles não estão para se incomodar com isso. Admito que o livro possa incomodar os judeus, mas isso pouco me importa", disse.

Com Caim, Saramago regressa ao tema religioso, contando, em tom irónico e jocoso, a história de Caim, filho primogénito de Adão e Eva, quase duas décadas após o escândalo provocado pela sua obra "O Evangelho segundo Jesus Cristo" (1991).

Na obra Caim, não faltam os desmandos homossexuais em Sodoma que quase vitimam dois anjos!

Ainda sobre o Livro Caim, Pilar del Rio fez alguns comentários que transcrevo:

"Que atracção mórbida têm os homens para inventar, ao longo dos tempos, religiões terríveis a que logo se escravizam? Que paixão aturdiu a humanidade levando-a a impor-se a si mesma códigos e proibições canalhas, ameaçar-se com fogos eternos, condenar-se absurdamente por toda a vida, centrar a existência em tabus alheios ao sentido comum e fazer de normas desumanas guias de conduta e de condenação? Sim: os chamados seres racionais estão loucos, por isso talvez não mereçam a existência. Essa é, em meu entender, a síntese do romance de Saramago, uma perplexidade que se afirmou em cada leitura: Não somos de fiar, Caim tinha razão ao executar o seu plano se nós seres humanos somos tão crueis, tão maus, tão aborrecíveis, que quando queremos inventar um ser superior temos que o carregar de sangue, ódio, morte, renúncia, sacrifício. O rancor do Deus da bíblia é o rancor que os humanos inventaram, dado que foram os seres humanos que propuseram as diferentes figuras divinas. E a crueldade, a velhacaria, o ardor guerreiro e o espírito de vingança são construções humanas a que se deu corpo legal e religioso para, de seguida, submeter-se com uma ligeireza insuportável. “Escravos de um Deus fictício” escreveu alguém, e é verdade: seja no Islão, nas religiões africanas ou ameríndias, no judaísmo, no cristianismo nas suas distintas variantes ou noutras confissões, em todas estão os códigos e o pecado. Numas impõem burkas, noutras proíbem fazer amor sem passar por um altar, e lapidam na vida terrena ou condenam à eternidade se se tratam com uma transfusão ou se investigam com células-mãe. E todas estão convencidas da sua excelência, da sua legítima capacidade para condenar, por exemplo, os homossexuais - todas as religiões têm uma fixação com o sexo, o que demonstra quão humanas são - e todas se sabem e sentem superiores. Nenhuma vê ridículos e fátuos os seus rituais, embora não entenda os dos vizinhos, são bárbaros uns para os outros, nunca amigos, nunca próximos: no universo religioso é onde mais claramente fica demonstrado que os humanos ao longo da sua passagem pelo mundo procuraram sempre motivos para o confronto e que, como ficou dito, a religião é um dos maiores, a par da bandeira e do território, três grandes falácias para dividir uma mesma espécie. Três grandes fraudes."

Pessoas como José Saramago não morrem jamais. Suas obras o perpetuam. Mas sua voz nos fará falta para um mundo mais justo e menos preconceituoso.
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Fontes:

2 comentários:

Unknown disse...

Mais que bonita, essa homenagem ao Saramago resume, de forma agradável, a sua linha de pensamento e algumas de suas obras.
Arrisco-me a complementar que em 1991, após publicar o Evangelho Segundo Jesus Cristo, o escritor abandounou Portugal por não suportar a pressão de muitos religiosos e, mais ainda, por causa do veto - pelo Subsecretário de Cultura da época - de seu nome na lista dos candidatos a um prêmio literário europeu.
Novidade foi saber que ele era um simpatizante da causa LGBT.
Muito bem escrito, Carlos. Como sempre.
Abraços.

Julio Marinho disse...

Eita que tu é rápido hein? Brincadeira, na verdade já estava com um post pronto nos rascunhos e vc postou, com muita elegância, antes de mim, rsrsrsrsrs...
Engraçaco, estava lendo "Caim" justamente essa semana. O mundo perde um dos seus mais ilustres e lúcidos ocupantes.

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