
Todos que pelo menos já assistiram filmes americanos sabem como, na cultura deles, é importante o baile de formatura. É uma parte significante em suas vidas, que começa desde a roupa e o acompanhante, até a festa propriamente dita. É um registro que fica para vida toda.
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Constança McMillen, apesar de adolescente, é lésbica bem resolvida e, como todos os seus colegas, quis levar alguém importante para ela, sua namorada, e diante das regras impostas pelo colégio, não teve escolha senão solicitar a autorização para ter direito de levar sua companhia, assim como se vestir com um smoking. Pedidos estes negados sumariamente pelo colégio.
A sua família a apoiou, tendo seu pai partido para briga em defesa de sua filha. O caso chegou aos ouvidos da União Americana de Liberdades Civis que processou a escola para forçá-la a realizar o baile e permitir que McMillen levasse a namorada usando smoking.
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Segundo a direção do colégio, a comoção pública a tornou vilã, recebendo vários e-mails de alunos com desaforos e xingamentos.
O colégio, após saber da demanda judicial, por sua vez, em retaliação, arranjou um “jeitinho”, nos moldes à brasileira: cancelou a festa de formatura para todos. Numa tentativa de fugir ao debate e se esconder atrás do muro da discriminação.
Os colegas do colégio, evidente, passaram a culpar Constança McMillen por estragar o evento, pesando ainda mais o clima, que já estava ruim. A exclusão e preconceito foram acentuados de tal forma que os alunos daquela escola resolveram fazer nova festa, particular, sem que McMillen fizesse parte dos convidados.
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A adolescente lésbica ficou numa situação tal, que desde que os colegas resolveram hostilizá-la, não apareceu mais no colégio.
Tudo isto aconteceu numa área rural do Mississipi, mas tomou dimensão nacional, tendo a menina sido convidada para ser entrevistada no talk show da Ellen DeGeneres.
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O juiz federal, Glen H. Davidson, que apreciou o caso, decidiu na última terça (23/03) rejeitar o pedido da União Americana das Liberdades Civis para forçar a escola do distrito de Itawamba a remarcar o baile para o dia 2 de abril. No entanto, reconheceu expressamente que tal cancelamento da festa violou os direitos constitucionais da estudante Constance McMillen, de 18 anos e que, por conseguinte, realizará um novo julgamento sobre a questão.
Na decisão, o juiz menciona que McMillen é abertamente gay desde que estava na oitava série e que a aluna queria comunicar uma mensagem, vestindo um smoking e acompanhando a namorada do mesmo sexo.
Na decisão, o juiz menciona que McMillen é abertamente gay desde que estava na oitava série e que a aluna queria comunicar uma mensagem, vestindo um smoking e acompanhando a namorada do mesmo sexo.
"O Tribunal considera esta é uma expressão de comunicação, e enquadra-se na competência da Primeira Emenda [da Constituição americana]", sentenciou o juiz.
Engraçado o contraste cultural dos americanos com os brasileiros. Lá, especialmente no interior, eles vivem sob a batuta de um severo moralismo ao estilo Magno Malta e Marcelo Crivella, mas com uma conscientização elevada de seus direitos individuais, num regime democrático de direito mais valorizado, atuante e eficaz.
Se fosse aqui no Brasil, numa escola não religiosa, a diretora ia dar de ombros, dizer para moça “sapatão” se danar, e provavelmente rir muito ou dizer que bem avisou quando os colegas da turma a esculhambassem durante a festa, e evidente, a grande sensação para todas fofoqueiras da cidade, que teriam sobre o que falar de tal acontecimento, ao estilo Nelson Rodrigues.
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O problema aqui talvez seja este. Fica tudo muito morno, mais ou menos. Até crimes por homofobia são relativizados. Os preconceituosos fingem que não discriminam e muitos LGBTs fingem que acreditam.
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foto: (AP Photo / Warner Bros, Michael Rozman)
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