O presente blog se propõe a reflexão sobre os Direitos Humanos nas suas mais diversas manifestações e algumas amenidades.


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

No Brasil, 30 mil jovens são aprisionados em clinicas para serem “curados” da homossexualidade


Recebi uma correspondência com denúncia gravíssima.

Segundo informa o jornalista Márcio Lima, de Belo Horizonte, o Coordenador de Saúde do Sistema Penitenciário, Dr. Paulo César Sampaio (foto ao lado), pertencente aos quadros da Secretaria de Administração Penitenciária do Governo do Estado de São Paulo, lhe afirmou que existe no Brasil cerca de 30 mil jovens aprisionados em clínicas porque a família é homofóbica e deseja obter a cura da homossexualidade.

Trinta mil jovens presos em clínicas para serem “curados” da orientação sexual?

Não fosse essa fala do sério e respeitado Coordenador de Saúde do Sistema Penitenciário de São Paulo, sinceramente não acreditaria.

Na realidade, em pleno século XXI não podia imaginar que, fora aqueles que captados por evangélicos como Rozangela Justino e seus pares, ensandecidos pelas ditas regras religiosas para obterem a salvação celestial, ainda existisse alguém com sanidade mental estável que pudesse crer na prática de “cura” psiquiátrica para mudança da orientação sexual.

Portanto, devemos estar atentos porque além daqueles que são levados à crença da cura da homossexualidade PELA RELIGIÃO, também existem outros que são COMPELIDOS por seus familiares a se internarem numa clínica de recuperação PSIQUIATRICA para idêntica cura!

Nesta última a motivação não é, a priori, a crença religiosa, mas a crença que o homossexual sofre temporariamente de problemas mentais e emocionais.

Diante desta gravíssima denúncia, até inicialmente pouco crível, impõe-se uma varredura nestas clínicas de recuperação.

Exagero? Não! Basta ler a matéria na íntegra no jornal O TEMPO e ter assistido a reportagem produzida pelo SBT NOTICIAS de ontem à noite, confirmando que, de fato, tais clínicas são verdadeiras cortinas de fumaça que escondem HORRORES e situações tão absurdas que se mostrado numa novela não seriam consideradas críveis.

Tal fato veio à tona por conta de um trágico fato ocorrido com um jovem de Minas Gerais, Felipe, pessoa próxima ao jornalista Márcio Lima. Em 10 de setembro de 2009, ele foi surpreendido enquanto dormia, quando foi levado A FORÇA, por três homens, por ordem de sua mãe, e involuntariamente conduzido por ambulância até a Clínica de Recuperação para drogados - CLÍNICA VIVA -, em local, propositalmente, bem distante de sua residência, em Piedade, interior de São Paulo.

Os jornalistas Andréa Silva e Fernando Zuba do jornal O TEMPO, revelam na matéria “Drama familiar vira negócio rentável para clínicas” o que ocorreu com Felipe e em que situação ele se encontra na tal clínica:

“Na capital, a promotoria de Justiça de Defesa da Saúde apura a internação involuntária de um mineiro, de 21 anos, em uma clínica da cidade de Piedade, no interior de São Paulo. Por telefone, o rapaz - que não terá o nome revelado - nos contou o drama que vive desde que foi mandado para o local pelos pais, há dois meses. "Esse lugar interna pessoas que não têm condições de conviver em sociedade, e esse não é o meu caso. Preciso sair daqui se não vou enlouquecer". O rapaz acusa a mãe de interná-lo à força porque ele é homossexual. "Não faço e nunca fiz mal a ninguém. Beber e fumar maconha não faz de ninguém um criminoso que tem que ser privado do convívio dos amigos e familiares. Minha mãe não aceita minha opção sexual", explicou. O drama relatado pelo rapaz é impressionante. Ele conta que foi apanhado de surpresa em sua casa, em Belo Horizonte, sem qualquer exame prévio. "Três homens me cercaram e me aplicaram uma injeção. Quando acordei, já estava neste lugar". O jovem diz que foi vítima de maus-tratos e conta que, dos 60 dias de internação, já chegou a ficar 25 na chamada "solitária" como forma de castigo. Com a voz embargada, antes de terminar a ligação, ele revelou que no lugar há muita violência. "Temos que fazer o que eles querem, do contrário, os castigos são aplicados, sem piedade".A reportagem de O TEMPO também fez contato com a mãe do interno, que saiu de Belo Horizonte e está em São Paulo desde que contratou os serviços da clínica. Ela dá outra versão para a história. "Conheço o meu filho. Ele estava utilizando drogas pesadas e podia causar danos irreversíveis a sua saúde". Segundo ela, todas as medidas foram tomadas dentro da lei. "Jamais faria algo para prejudicar o meu próprio filho"..
A história não termina aí, os jornalistas confirmaram com a Coordenadora de Comissão de Direitos Humanos que o local para onde Felipe foi levado não aparenta ser uma clínica, mas um presídio:

“Coordenadora de Comissão Nacional de Direitos Humanos confirma que pacientes estão submetidos a cárcere privado Na última sexta-feira, a clínica localizada em Piedade, no interior de São Paulo, onde está o mineiro de 21 anos que alega ter sido internado por preconceito da mãe, foi alvo de uma fiscalização. De acordo com a coordenadora da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia, Ana Luiza Castro, o local apresenta fortes indícios de violação dos direitos humanos. "O que pudemos perceber é uma infinidade de grades, cercas elétricas e um número excessivo de seguranças. Fica evidente o uso abusivo da força. Essa clínica não tem características de uma casa de saúde, mas, sim, de um presídio que mantém as pessoas em cárcere privado", assinalou.


Sobre o mineiro entrevistado por nossa reportagem, Ana Luiza Castro informou que manteve um longo contato com o jovem e concluiu que o rapaz está internado indevidamente. "Trata-se de um jovem que está totalmente lúcido, consciente e saudável. Vamos acionar a Justiça imediatamente para que ele seja liberado", contou. Outros três laudos psicológicos, segundo ela, teriam confirmado as conclusões da coordenadora da Comissão Nacional de Direitos Humanos, mas o rapaz só poderá deixar a clínica após decisão da Justiça.


A diretora terapêutica da clínica em Piedade, a psicóloga Cláudia de Oliveira Soares, informou que todos os procedimentos realizados são padronizados e normatizados pelos órgãos competentes. "Sabemos que existe uma lei que permite a internação involuntária, desde que o Ministério Público Estadual (MPE) seja comunicado em até 72 horas. É o que fazemos", explicou. Ela ressaltou que o paciente mineiro foi internado a pedido da mãe, e o procedimento, comunicado ao MPE.”

Já segundo Felipe, o tipo de tratamento que recebe é denominado pela equipe como “terapia racional emotiva”. Baseia-se em palestras ministradas por psicólogos, onde o objetivo é conscientizar os pacientes sobre “a droga e a droga de nosso comportamento”, como ele mesmo diz. Tratamento este que teria custado o valor de R$15.000,00 com previsão de três meses de duração.

A partir da denúncia do Márcio Lima sobre o ocorrido com seu amigo Felipe, os jornalistas descobriram muito mais do que pudessem imaginar, que no Brasil há uma espécie de máfia de clinicas de recuperação, movidas exclusivamente para obtenção de lucros, maltratando pacientes e ganhando rios de dinheiro dos pais dos pacientes, razão de investigação pelo Ministério Público.

Não basta o Márcio Lima colocar a boca no trombone, o Ministério Publico e a Coordenadora de Comissão de Direitos Humanos investigarem a clínica e os fatos ocorridos com Felipe.

Felipe teve sorte de possuir um amigo esclarecido que soube aonde ir e realizar as denúncias devidas. Mas quantos Felipes podem existir por aí? Segundo o Chefe do Sistema Penitenciário do Governo de SP, Paulo César Sampaio, existem mais 30 mil em situação semelhante!!!


e fotos extraídas da internet

5 comentários:

Eduardo A. disse...

Não é raro encontrar pessoas que insistam no fato de ser homossexual, bi, etc um doente. Mesmo no meio dos profissionais de saúde em pleno século XXI o que é lamentável.Tivemos algumas mudanças.. isso é verdade!Em dezembro de 1973 - Associação Psiquiátrica Americana retirou a homossexualidade da lista de transtornos mentais e passou a não considera-lá mais uma doença o que somente em 1985 no Brasil, o Conselho Federal de Medicina do Brasil (CFM) retirou a homossexualidade da condição de desvio sexual. Nos anos 90 o manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-IV) onde são identificados por códigos todas os distúrbios mentais, que serve de como orientador para a classe médica, principalmente, para os psiquiatras, também retirou a homossexualidade da condição de distúrbio mental.E em 1993 a Organização Mundial de Saúde retirou o termo "homossexualismo" que dava idéia de doença e já adota desde então o termo homossexualidade. Todo mundo ou a maioria sabe que, conforme as necessidades de uma determinada cultura, os valores podem mudar. Gostei muito desse post Carlos, bem redigido, reflexivo e serve como um alerta. É muito triste saber que no Brasil ainda ocorram casos assim de total desrespeito aos direitos individuais. Falta ao povo brasileiro compreender o que é a diversidade sexual e cultural e a sua importância para um bom convívio social sem preconceitos. Assim talvez seja a única forma de eliminarmos esse mal daqueles que são perseguidos em vida pela sua orientação seja ela sexual ou religiosa tornando mais sadia a vida em sociedade.

Carlos Alexandre Neves Lima disse...

Eduardo, muito interessante o resgate histórico que você trouxe. Fui até o seu blog e acho que você poderia postar lá este seu comentário, contribuindo com a causa LGBT, inclusive, fazendo isto com regularidade. Não que não queira seus comentários, pelo contrário, mas o conteúdo merece um destaque maior.
Obrigado

Maria Cristina Martins disse...

Inacreditável que em pleno século XXI isso ainda aconteça!!

Eduardo A. disse...

Obrigado!É uma boa idéia. Abraço.

clinica de recuperação disse...

obrigado

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