O presente blog se propõe a reflexão sobre os Direitos Humanos nas suas mais diversas manifestações e algumas amenidades.


sábado, 22 de maio de 2010

Vozes Simpatizantes de dentro da Igreja Católica na Argentina

A voz de outra Igreja

Doze padres de Córdoba, na Argentina, se manifestaram a favor do casamento gay e questionaram a hierarquia católica. "Jesus jamais condenou os homossexuais", disseram.
A reportagem é do jornal Página/12, 20-05-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Um grupo de 12 sacerdotes de Córdoba manifestou nesta quarta-feira sua posição favorável à lei que autoriza o casamento entre pessoas do mesmo sexo e criticou a hierarquia eclesiástica católica por citar o direito natural para rejeitar a reforma ao Código Civil que é debatida no Congresso argentino. "Citar a 'lei natural' para se opôr a essa legislação é só uma posição fixista, dura, congelada da realidade pretendida como 'natural', sem entender os complexos processos naturais", advertiram os religiosos, integrantes da agrupação Sacerdotes do Terceiro Mundo Enrique Angelelli.

Diante da meia sanção que o projeto de lei recebeu na Câmara dos Deputados e o início do debate no Senado, os padres consideraram que "aprovar, acompanhar e aprofundar" a iniciativa os "coloca no caminho do Evangelho de Jesus".

A opinião favorável ao casamento entre pessoas do mesmo sexo foi difundida em uma declaração chamada "Contribuições ao debate sobre as modificações à lei do casamento civil", que foi assinada pelo grupo de sacerdotes que é presidido pelo presbítero Nicolás Alessio, pároco de San Cayetano, da cidade de Córdoba.

Após lembrar que "Jesus jamais condenou nem mencionou a homossexualidade", os religiosos reiteraram que são a favor de "uma lei que permita que pessoas do mesmo sexo sejam 'matrimônio' e vivam profundamente o amor e a sexualidade". Além disso, disseram entender a homossexualidade como "uma maneira distinta, diferente, diversa de viver a sexualidade e o amor".

Os sacerdotes, que integram a arquidiocese de Córdoba, estimam que "um legislador pode professar profundamente sua fé cristã e católica" e, por sua vez, "com total liberdade de consciência, pensar, definir e agir diferentemente ao que a hierarquia eclesial propõe".

"Jesus jamais condenou nem mencionou a homossexualidade. Enfrentou, sim, os soberbos, os que se acreditavam puros, os que tinham o poder opressor, os que escravizavam, os que humilhavam. Sempre pôs a lei a serviço de uma maior humanização e, sobretudo, os proscritos, os esquecidos, os últimos", indicaram no documento.

Em declarações em rádio, Alessio reconheceu que as opiniões do grupo se encontram "nas antípodas" do Episcopado. "Somos a favor de uma igualdade de direitos, do casamento, da família de homossexuais, da família gay", considerou. E defendeu que "os que não querem que o casamento gay adote 'filhos' é porque, no fundo, consideram que são doentes" e "partem desse prejuízo".

"Mas se partimos da base de que são pessoas tão normais como você e como eu, porque não vão poder adotar?", perguntou Alessio.

A Comissão Episcopal de Acompanhamento Legislativo, que é presidida pelo bispo Antonio Marino, havia ratificado sua "total rejeição" ao projeto aprovado na Câmara, especialmente que os casais de mesmo sexo possam adotar crianças.

A Comunidade Homossexual Argentina (CHA) elogiou o documento. "Deve ser muito reconfortante para os cristãos que existam outras vozes dentro da Igreja, que, no marco dos mesmos evangelhos, tenham outra postura não discriminatória sobre o amor entre duas pessoas do mesmo sexo", ressaltou César Cigliutti, presidente da CHA.

O grupo afirma também que há um “fundamentalismo anacrônico" naqueles que citam a Bíblia para "justificar seus próprios preconceitos".

A reação do bispo de Córdoba foi imediata. Segundo a agência de notícias estatal argentina, Télam, ele divulgou um comunicado afirmando que as declarações de Alessio e dos outros onze "não representa de forma alguma o sentimento da Igreja Católica" e pediu que os senadores de Córdoba se oponham "para o bem do país e de suas futuras gerações."

Para Alessio, “nem os bispos nem o Papa aceitam a realidade, de que hoje vivemos em um mundo plural”.

Em Córdoba, segundo pesquisas realizadas por institutos privados, 53,4 % da população é contra a lei que estende o casamento civil para homossexuais. Alessio tem consciência. "A Córdoba tradicional é conservadora, por isso nos castigam por todos os lados e nos repudiam. Mas é preciso saber que há outro Córdoba, de uma sociedade com pessoas abertas".

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