Quando o personagem Gerson, vivido por Marcelo Anthony em "Passione", revelou seu segredo, incluindo evento que envolvia prostitutas e homossexualidade, passei imediatamente a prestar atenção na novela que corria solta na televisão, com olhos e ouvidos atentos.
Primeiro revelou que gostava de sexo “sujo” e em seguida passou a descrever o que para ele era sujo.
Na relação daquilo que o personagem considerava sujo disse que se sentia prazer em ver casais homossexuais fazendo sexo em banheiros públicos.
'Eu não sou gay, nunca fui homossexual, mas o cheiro fétido dos banheiros públicos me atraia. Eu não queria participar, mas eu via, olhava, fascinado. Aquela atmosfera suja, proibida, mexia muito comigo'.
Revelou ainda que bastava o cheiro e as situações que via nos prostíbulos e banheiros públicos, para sentir prazer, e ao mesmo tempo, envergonhado com a situação
Mas outros exemplos surgiram: prostitutas e travestis que se comercializam pelas ruas, denotando baixo nível. Aliás, a única fantasia levada a prática teria sido com uma prostituta de rua, "bem farta", “roliça”, ou seja, bem gorda.
Depois de ser pego e achacado por policiais, passou a se saciar com sites de pornografia, na internet, com o tal sexo 'sujo'. Segundo ele, 'era um prazer enorme me esconder para olhar aquilo. Era um prazer tão forte. Mas ao mesmo tempo aquilo me fazia mal'.
A primeira pergunta que me fiz, depois destas cenas, foi se o texto da novela Passione teria insinuado que sexo homossexual era sujo ou se pelo fato do personagem colocar tudo no mesmo saco, poderia ser assim entendido.
Recorri à ajuda técnica e imediatamente repassei o questionamento a competente Psicóloga Clínica e Especialista em Sexualidade Humana – Unicamp - Campinas/SP, Dra. Maria Cristina Martins (foto ao lado), que admiro profundamente, por sua indiscutível capacidade, inclusive, reconhecida no meio científico, e, principalmente, por saber que se trata de alguém destituída de preconceitos.
Após meus relatos e sua advertência que não assiste novelas, os esclarecimentos de Cristina Martins foram no sentido que a única certeza que poderia se extrair da narrativa era que o personagem fazia uma associação da homossexualidade ao proibido, dentro dos seus padrões de moralidade sexual.
Acrescentou que, em regra, a fantasia sexual procura preencher um vazio na vida sexual e se dá exatamente nos atos que não se tem coragem de se vivenciar. Aliás, advertiu, que algumas fantasias nem devem sair desta esfera porque inaceitáveis socialmente, citando como exemplo os exibicionistas que fantasiam exibir seus órgãos genitais publicamente.
Quanto a eventual homossexualidade enrustida do personagem, afirmou que só um trabalho em conjunto com eventual cliente, em situação análoga, seria possível enfrentar a questão da orientação sexual.
Quanto a eventual homossexualidade enrustida do personagem, afirmou que só um trabalho em conjunto com eventual cliente, em situação análoga, seria possível enfrentar a questão da orientação sexual.
Questionei a Cristina Martins se não teria havido uma exacerbação do autor, já que me pareceu pouco crível que tal segredo possuísse toda aquela repercussão nuclear perante aqueles que descobrissem ‘o segredo’ do Gerson. Afinal, estávamos falando de sexo virtual, envolvendo eventualmente prostituição, algo tão comum num universo machista. E já fui me adiantando, não pelo ponto de vista do personagem, uma vez que sabia que do ponto de vista psicológico bastaria o seu sofrimento pessoal para se caracterizar algo grave para o mesmo, mas aos olhos da esposa que transpareceu um grande nojo e do irmão, que chegou a chantageá-lo para não divulgar para família.
A resposta da sexóloga não poderia ter sido mais incisiva: - Aos seus olhos, dentro da sua moralidade sexual não se justificaria, disse ela. Em seguida a sexóloga esclareceu existir muita hipocrisia, mesmo junto aqueles que aparentam ser libertos da moralidade tradicional, razão pela qual, rapazes criados por famílias supostamente estruturadas acabavam praticando atos de violência homofóbica.
Depois desta resposta, vi que aquilo que pensava não refletia necessariamente um pensamento comum, da maioria das pessoas, e na dúvida, no desejo de me afastar da minha ‘moralidade sexual’ pessoal, indaguei sobre o tal sexo considerado “sujo” pelo personagem, o qual me pareceu possuir uma conotação de “anormal”.
Segundo a sexóloga Maria Cristina Martins, uma das razões que dificulta a compreensão dos interesses sexuais “não convencionais” é o fato da confrontação utilizada ser a prática sexual tradicional, aqui considerada aquela com intuito da procriação, tida como a mais importante função biológica.
No entanto, de imediato foi me sugerindo a leitura de um trecho de seu artigo com o Dr. Paulo Roberto Ceccareli, sobre o tema "PRÁTICAS SEXUAIS DITAS “DESVIANTES”: PERVERSÃO OU DIREITO Á DIFERENÇA?", onde conclui que apesar da sexualidade humana ser objeto de estudo desde a antiguidade, não há consenso sobre o assunto:
“partindo-se da premissa que a definição de “normalidade” é histórica e culturalmente construída, conceitos como “normal”, “saudável” e “patológico” estão sendo questionados por todos os profissionais que se interessam pelo estudo e compreensão da sexualidade humana. As inúmeras manifestações da sexualidade humana, assim como as mais variadas buscas de prazer, confirmam uma vez mais que no ser humano a sexualidade não está vinculada á procriação”.
A resposta da sexóloga não poderia ter sido mais incisiva: - Aos seus olhos, dentro da sua moralidade sexual não se justificaria, disse ela. Em seguida a sexóloga esclareceu existir muita hipocrisia, mesmo junto aqueles que aparentam ser libertos da moralidade tradicional, razão pela qual, rapazes criados por famílias supostamente estruturadas acabavam praticando atos de violência homofóbica.
Depois desta resposta, vi que aquilo que pensava não refletia necessariamente um pensamento comum, da maioria das pessoas, e na dúvida, no desejo de me afastar da minha ‘moralidade sexual’ pessoal, indaguei sobre o tal sexo considerado “sujo” pelo personagem, o qual me pareceu possuir uma conotação de “anormal”.
Segundo a sexóloga Maria Cristina Martins, uma das razões que dificulta a compreensão dos interesses sexuais “não convencionais” é o fato da confrontação utilizada ser a prática sexual tradicional, aqui considerada aquela com intuito da procriação, tida como a mais importante função biológica.
No entanto, de imediato foi me sugerindo a leitura de um trecho de seu artigo com o Dr. Paulo Roberto Ceccareli, sobre o tema "PRÁTICAS SEXUAIS DITAS “DESVIANTES”: PERVERSÃO OU DIREITO Á DIFERENÇA?", onde conclui que apesar da sexualidade humana ser objeto de estudo desde a antiguidade, não há consenso sobre o assunto:
“partindo-se da premissa que a definição de “normalidade” é histórica e culturalmente construída, conceitos como “normal”, “saudável” e “patológico” estão sendo questionados por todos os profissionais que se interessam pelo estudo e compreensão da sexualidade humana. As inúmeras manifestações da sexualidade humana, assim como as mais variadas buscas de prazer, confirmam uma vez mais que no ser humano a sexualidade não está vinculada á procriação”.
Então, eu que estava preparado para pixar o personagem, o segredo e a narrativa com cheiro de preconceituosa me recolho dividindo com vocês essas informações.
2 comentários:
Querido Alexandre,
Agradeço muito sua generosidade quanto aos meus "predicados",,,rs
Gostaria de acrescentar que fantasias sexuais tod@s nós as temos, pelas mais diversas razões.
Quanto ao personagem em questão, levando em conta a minha total falta de conhecimento sobre o personagem, só pude especular a respeito do seu sofrimento em relação á sua sexualidade. Fantasias sexuais geralmente são "criadas" para dar vazão á situações que não "podemos atuar", isto é, que não temos coragem de vivenciar na prática e se relacionam a temas "probidos" áquelas que as têm, no SEU roteiro de vida. O que conta é a "singularidade" de cada pessoa, pois somos tod@s diferentes. Na nossa imaginação, tudo podemos, não censura externa. A fantasia de estupro, por ex, é muito comum, mas deve ficar a nivel de fantasia e só. Se compreendi o seu relato, o personagem procurou ajuda porque tais fantasias estão causando sofrimento, conflito e prejuízo na em outras áreas de sua vida.
E a Internet, tornou-se mais um veiculo onde pessoas, de forma ocasional ou rotineira, podem desfrutar e realizar fantasias e desejos muitas vezes inconfessáveis e frustrados em seus relacionamentos amorosos e sexuais, de forma segura e anônima sem que suas identidades reais sejam reveladas.
E para finalizar, gostaria de dizer que o personagem está com um analista excepcional, que é o Dr. Flavio Gikovate, o que me dá a certeza que o tema será tratado com muito respeito!!
Beijos,
Cristina
Parabéns pelo texto e por mostrar os dois lados. Tô com Cristina: Não achei preconceituoso, e sim, o q não era correto para ele (em relação à homossexualidade). Mas uma pergunta ficou na minha mente: será q ao se satisfazer com certos tipos de vídeos, não estaria alimentando certo tipo de fantasias "proibidas"? Por exemplo: quem se satisfaz com vídeo de estupro, n estaria incentivando este ato, uma vez que se ninguém assistisse não existiriam esses vídeos?
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