O presente blog se propõe a reflexão sobre os Direitos Humanos nas suas mais diversas manifestações e algumas amenidades.


segunda-feira, 26 de abril de 2010

Senador Marcelo Crivella, num encontro conspirativo, defende que grupos majoritários devam prevalecer sobre as minorias


O Bispo da Igreja Universal e Senador da República pelo Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, foi convidado pelo Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, a participar no sábado passado ao seminário “Direitos Humanos na Doutrina Social da Igreja”. O objetivo do encontro foi discutir o 3ª Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), do governo federal.

No encontro conspirativo do Rio de Janeiro, além do Cardeal da Igreja Católica e Senador Evangélico estava também o representante da Associação de Juristas Católicos. Todos representantes do Rio de Janeiro e inimigos declarados dos direitos fundamentais lgbt.

Na página pessoal do Senador Crivella, relatando o encontro conspirativo, se referindo ao PLC 122/2006, o mesmo afirma com todas as letras:

“...não é justo que minorias queiram se sobrepujar a grupos majoritários...”

A primeira vista um leitor menos atento pode imaginar que exista uma certa coerência no pensamento, afinal uma maioria deve prevalecer e também que não há espanto algum em tal afirmativa, pois todos têm direito a liberdade de expressão e de pensamento, ainda que grotesco.

Não é bem assim.

Superficialmente, os princípios da maioria e a proteção dos direitos individuais e das minorias podem parecer contraditórios. Na realidade, contudo, estes princípios são pilares gêmeos que sustêm a mesma base daquilo que designamos por governo democrático”.

E no caso, estamos nos referindo a um SENADOR DA REPÚBLICA, que representa o Estado do Rio de Janeiro, que possui obrigação em seu mandado de cumprir a Constituição Federal em defesa de todos os cidadãos, exercendo seu papel num Estado Democrático de Direito.

Um Senador da República que se atreve acintosa e absurdamente a se voltar contra o sistema das Nações Unidas e o sistema de proteção no âmbito da ONU. Sistema este que elenca os instrumentos principais de proteção das minorias, começando não só pela Declaração Universal, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, com seu art. 26, a Declaração dos Direitos das Minorias, que é uma explicitação do que está contido no art. 26, e a elaboração do próprio Comitê de Direitos Humanos, também a sua interpretação.

Tudo que diz respeito aos direitos humanos em geral e direitos das minorias, em especial no âmbito universal da ONU, aplica-se às minorias brasileiras, porque o Brasil assinou todos esses tratados internacionais e, portanto, faz parte do direito das minorias no Direito brasileiro. O mesmo se diga a respeito da proteção das minorias no âmbito interamericano.

O Brasil é signatário dessas convenções, e a proteção das minorias no âmbito interamericano é proteção das minorias brasileiras como minorias interamericanas, o que remete, portanto, aos princípios fundamentais da igualdade e da dignidade da pesseoa humana.

Parece que para estes senhores, as minorias homossexuais deveriam ser pisadas, retraídas, diminuídas e se possível dizimadas, deixarem de existir seria o ideal.

Essa fala do Senador Crivella, que as minorias não podem sobrepujar os grupos das maiorias, mostra seu total desrespeito aos cidadãos e a todos os princípios de direitos humanos. Essa sua fixação contra os homossexuais, exatamente quando se noticiou em todos os jornais a violência absurda ocorrida na Faculdade de Farmácia da USP, chega as raias de doença.

Para os aludidos religiosos, contando aí não só os evangélicos, mas também os católicos, representado pela Associação dos Juristas Católicos, o preconceito ao homossexual não precisa virar crime, pois já existiria no código penal a previsão de crime de injúria.

No entanto, o que deveria ser um crime de preconceito a orientação sexual não se confunde com o crime de injúria, à medida que este protege a honra subjetiva da pessoa, que é o sentimento próprio sobre os atributos físicos, morais e intelectuais de cada pessoa, e aquele visa proteger contra o preconceito em decorrência da orientação sexual, que é a manifestação da pulsão sexual do indivíduo seja ela lésbica, gay, travesti, transgeneros ou transexuais.

Por isso, devem os LGBTs ser, juntamente com todos as demais minorias, respeitados na sua igualdade essencial: menores em número e poder, mas não menores em dignidade nem em direito.

Valendo-me das palavras de Rui Barbosa, um homem de verdade e não um pulha homofóbico qualquer, só me resta repetir:

Nós não queremos a unanimidade; nós não queremos a uniformidade; nós queremos todas as formas de igualdade entre iguais para sermos capazes de desigualarmos os desiguais na medida em que haja a desigualdade entre essas pessoas”.
/
foto extraída do site do Senador http://marcelocrivella.com.br

7 comentários:

Papai Gay disse...

Muito bom texto como sempre. Olha... Quanto mais eu cavuco mais merda aparece...

Diego disse...

Esse religioso formador de opinião se esqueceu de quem era a Igreja Universal a poucos anos atras (era minoria). É claro que a homossexualidade o preocupa e preocupa a TODAS as igrejas, afinal as pessoas se assumirem, se aceitarem e serem felizes preocupa e muito, afinal não sobrará pessoas depressivas e frustradas para alimentar essas instituições.

Deveriam se preocupar com os pedófilos e ladrões que estão embaixo do própro nariz.

Ainda bem que existe outros meios de comunicação e não somente a emissora de tv deles que defende a idéia, porque será?

Leco Vilela disse...

Não posso parar de pensar no movimento Bash Back!...

Analisando as noticias vinculadas por todas as mídias e isso inclui estes blog me cabe ver o lado positivo do Marcelo Dourado ter vencido o BBB! Graças as demonstrações homofóbicas dele esse é o assunto do momento, pois os homofóbicos resolveram falar e sem mascaras o "inimigo" se mostra e por tanto sabemos onde agir!... Cabe a nós agora não deixar a peteca cair. Manifestações tem que ser feitas, o silêncio que permeia o lgbt tem que acabar. Nãos somos o Milk, não frequentamos os Stonewall, mas temos voz ativa e devemos usa-la. Novamente, meus parabens pelo blog e pelas denúncias!

Leco Vilela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Glauco Silva disse...

Marcelo Crivella me causa repulsa há tempos mas tenho mais temor pelas pessoas que votam e aplaudem suas idéias.
Ótimo artigo,abraço

Julio Marinho disse...

É a máfia da fé fazendo aquilo que mais sabe fazer, se articular para manter o mundo na ignorância. Lamentável!

Carlos Alexandre Neves Lima disse...

Papai Gay,se a merda mencionada fosse ao menos a aludida no teatro, estaríamos melhor. Vc, tem toda razão.

Diego Lima, Você lembra de duas questões importantes. A primeira que diz respeito ao próprio histórico das religiões, ditas minorias, e Universal já fez parte delas. A segunda, a gravidade deles possuírem um veículo de comunicação tão forte, como a televisão. Ainda existem LGBTs que assistem este canal, acredita?!

Leco Vilela, você mencionou dois fatos históricos tão importantes, stonewall e Milk. Engraçado que assisti Milk pensando nas diferenças de atitudes deles frente aos nossos. Pois é, temos voz ativa e devemos usá-la, especialmente no que toca a INFORMAÇÃO, elemento imprescindível para reagir pontualmente. Esta talvez seja a grande diferença de lá para cá, a informação.

Querendo ou não, sabemos que as Paradas LGBTs são utilizadas mais como festa que protesto. Falta informação e conscientização, Leco.

Que nossos pares homossexuais se informem, seja onde for e de que maneira der. Mas que chegue até eles a bendita informação. Só assim, quem sabe, comecem a reagir.

Glaukitos, eu também acho temeroso os ignorantes de boa vontade. Mas acho que são igualmente vítimas, utilizando por aqueles que sabem manipular. E, vamos combinar, é uma mistura bombástica, religião e ignorância.

Pólux, acabei repetindo o que você disse para o Glaukitos. Penso igual a você.

Queridos, obrigado pelos comentários. O legal dos comentários é que eles ACRESCENTAM idéias, cria um diálogo sobre um assunto que interessa a todos.

Abraços
Carlos Alexandre

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