O presente blog se propõe a reflexão sobre os Direitos Humanos nas suas mais diversas manifestações e algumas amenidades.


sexta-feira, 9 de abril de 2010

O bom acaso: BREVE HISTÓRICO DA IMPRENSA HOMOSSEXUAL NO BRASIL

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Depois de perder um post grande, cheio de detalhes, com inúmeras referências e transcrições sobre um tresloucado Deputado Federal que apresentou projeto de lei que pretende proibir a adoção por casais homossexuais resolvi, por total falta de paciência e falta de estomago, desisti do texto e resolvi trazer algum outro tema, que fosse igualmente interessante, mas já pronto e realizado por outra pessoa! rs

Estava lendo o extinto e famoso jornal "O LAMPIÃO" e, nele, uma matéria que mencionava uma situação absurda passada pelo jornalista Celso Cúri, autor da 'Coluna do Meio', na década de setenta, do Jornal Ultima Hora. Celso Cúri foi demitido do jornal e processado Superitendente da Policia Federal do Departamento de São Paulo pela justiça paulista por "ofender a moral e os bons costumes", isto porque ousou destinar sua coluna a homossexualidade!!!

Prepara-se para ler a razão do processo! Os absurdos são tão assustadores! Imagina que o promotor público designado para o processo desginado para o processo comunicou ao Juiz de Direito da 14a. Vara Criminal que o jornalista ofendeu, "de modo contínuo, no período compreendido entre 5 de fevereiro e 18 de maio de 1976, a moral pública e os bons costumes" na coluna do Meio, "cujo o nome não deixa dúvidas quanto ao assunto tratado, o homossexualismo que é claramente exataldo, defendendo-se abertamente as uniões anormais entre seres do mesmo sexo, chegando inclusive a promovê-las através da seção Correio Elegante."

Diante disto, que oportunamente voltarei a escrever, fui em busca da história do jornalismo homossexual no Brasil e encontrei na Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação um excelente artigo que nos fornece um breve histórico sobre essa questão.

Segue abaixo o texto, que reproduzo ipsis litteris, deleite-se:



Marcus Antônio Assis Lima

1. A imprensa alternativa


No Brasil dos anos 1960 e 1970, movimentos de contracultura começam a corroer os alicerces do comportamento social, abrindo espaço para uma rebeldia nos costumes. Com a ditadura militar, houve uma miscigenação entre esses movimentos e os ideais político-democráticos e populares. Nesse contexto, surge uma imprensa alternativa [1] , que tinha como fundamento comum a oposição intransigente ao regime militar. Nos primeiros quinze anos de ditadura, entre 1964 e 1980, nasceram e morreram cerca de 150 periódicos, que circulavam na periferia do subsistema editorial. Alijados da verba publicitária, apelavam para posições políticas radicais, à época.


Havia, essencialmente, duas classes de jornais alternativos. Alguns eram predominantemente políticos, baseados, grosso modo, nos ideais de valorização do nacional e do popular dos anos 50 e no marxismo vulgarizado nos meios estudantis dos anos 60. Esses periódicos eram, no geral, pedagógicos e dogmáticos.


Uma outra classe de jornais foi criada por jornalistas que rejeitavam a primazia do discurso ideológico-militar. Estavam mais voltados, segundo Kucinski, à crítica dos costumes e à ruptura cultural, “tinham suas raízes nos movimentos de contracultura norte-americanos e, através deles, no orientalismo, no anarquismo e no existencialismo de Jean-Paul Sartre.” (KUCINSKI, 1991:xiv-xv) Investiam principalmente contra o autoritarismo na esfera dos costumes e no alegado moralismo da classe média. Introduziram no Brasil temáticas da contracultura:


“A imprensa alternativa/nanica ou de underground esteve à margem do processo editorial do mercado (...) essa imprensa, literatura banida, perseguida, acuada, coincidiu com os anos do grande florescimento do milagre econômico brasileiro. E o lugar da literatura no meio dessa sociedade da iniqüidade está perfeitamente traduzido nessa imprensa que lutou sem fazer parte do mercado e do processo econômico. Ela nasceu dentro de uma sociedade que se industrializou rapidamente e é um reflexo do desprezo profundo que o sistema tem pela inteligência e pela cultura.” (FERNANDES, 1987:9)


Dentro desse contexto, é que localizamos o surgimento daquele que pode ser considerado o primeiro veículo de comunicação de massa voltada diretamente para a discussão franca e aberta dos direitos das minorias (negros, índios, mulheres) e, principalmente, da homossexualidade, no Brasil: Lampião da Esquina, com edição mensal e tiragem de 20 mil exemplares. Foi diante do constrangimento e preconceito latente que um grupo de jornalistas viu, em fins da década de 1970, a oportunidade certa para fazer valer seus ideais democráticos. Foi um período em que a discussão a respeito da sexualidade tomou de assalto o panorama cultural e político, com os novos ventos da redemocratização e o fim da censura prévia. A era das rupturas influenciava o nascimento de uma imprensa altamente especializada, segmentada e de caráter militante, representada pelo jornal Lampião.


Antes, em 1961, surge o que talvez possa ser considerado o primeiro jornal homossexual do Brasil: Snob, criação de Agildo Guimarães. Mimeografado e distribuído entre amigos, era mais um colunismo social que um veículo de discussão de idéias. Entre os anos 60 e início dos 70, circularam no Rio de Janeiro mais de quinze títulos: Snob, de Gilka Dantas, Le Femme, Subúrbio à noite, Gente Gay, Aliança de Ativistas Homossexuais, Eros, La Saison, O Centauro, O Vic, O Grupo, Darling, Gay Press Magazine, 20 de Abril, O Centro e O Galo. Em Niterói, surgem Os Felinos, Opinião, O Mito e Le Sophistique [2] .


Fora do Rio de Janeiro, a imprensa homossexual se mostrou mais vigorosa em Salvador. Lá, o mais ativo jornalista homossexual foi Waldeilton di Paula, que edita, entre outros: Fatos e Fofocas (1963), de exemplar único que circulava de mão em mão até voltar ao ponto de origem, quinzenal e que durou até 1967; Zéfiro (1967), datilografado; Baby (1968), também datilografado, com 50 exemplares reproduzidos por cópias xerox; Little Darling (1970), que saía com tiragem de cem exemplares, diferenciava-se dos demais por apresentar, além das fofocas da comunidade homossexual baiana, crítica de cinema e teatro e acontecimentos homossexuais fora da Bahia, sendo que, em 1978, passa a se chamar Ello. Nesse mesmo período, outro jornalista, Frederico Jorge Dantas, tentava impor um novo conceito à imprensa homossexual, até então limitada a um pastiche do colunismo social: ele edita e distribui informalmente os cadernos Eros, com 150 exemplares, e Entender. Sobre estes dois últimos, diz José Alcides Ferreira:


“Entender se crucificou entre tantos ‘roteiros’ e mau-caratismo, (...) os travestis invadiram todas as páginas e sujaram a barra (...) Eros animou um pouco pela diferença sobre os demais, mas foi obrigado a deixar de existir pela falta de entendimento com os ditos ‘representantes’ do colunismo homossexual do Rio de Janeiro.” (cf. LAMPIÃO, 1978, 2:14, grifos do autor)


Entre 1962 e 1964 houve, inclusive, o funcionamento de uma Associação Brasileira de Imprensa Gay, dirigida por Agildo Guimarães e Anuar Farah, no Rio de Janeiro, que foi fechada pelo regime militar.


Em 1976 começa a sair diariamente no jornal Última Hora, de São Paulo, uma coluna de cunho informativo, social e burlesco, fora da imprensa alternativa: é a Coluna do Meio, do então jornalista Celso Curi. Nessa coluna, Curi brincava com personagens de criação própria, contava piada, noticiava acontecimentos sociais e publicava um “Correio Elegante”. Uma particularidade a tornava um fato inusitado na imprensa brasileira: era dirigida aos homossexuais. De 30 a 40 cartas chegavam à redação, de todas as partes do país. Algumas para o “Correio Elegante”, outras de solidariedade. Leitores enviavam opiniões gerais, às vezes agradeciam o espaço conquistado. Outras cartas traziam admoestações ou partiam para a agressão direta. A “Coluna do Meio” acabou recuando no progresso alcançado, tendo em vista a pressão de grupos econômicos, leitores e, ainda, um processo penal que o jornalista teve de enfrentar por atentado ao pudor. Durou até novembro do ano seguinte, quando foi extinta pela própria direção do jornal.


Na imprensa alternativa, Beijo (1977) foi o primeiro a discutir a sexualidade como seu principal tema. O jornal lançou o primeiro grande ataque contra o preconceito com que a homossexualidade era tratada, principalmente na mídia. Em resposta à concepção de homossexualidade de O Pasquim, trouxe em um editorial:


“A imprensa ‘progressista’ não costuma incluir a sexualidade na sua lista dos dez mais (...). No seu número 436, o Pasquim resolveu falar do homossexualismo. Posição liberal: falar de ‘temas proibidos’. O Pasquim dá um destaque especial à imprensa gay. Falando dela, o jornal reafirma que não é ela (...) simulando liberar, quando a imprensa progressista tratava da homossexualidade era apenas para lhe indicar rapidamente o seu lugar no meio social.” (BEIJO, 1977:editorial)


A temática do prazer privilegiada nas páginas de O Beijo, que antecipou a iniciativa de Fernando Gabeira, não foi bem recebida pelos outros alternativos; saíram apenas seis edições.




Para Bernardo Kucinski, “na origem de cada projeto alternativo havia, invariavelmente, um episódio de fechamento de espaços na grande imprensa.” (KUCINSKI, 1991:xvi) Esse parece ter sido um dos motivos que levaram à criação do primeiro alternativo voltado para os homossexuais, Lampião (inicialmente chamado Lampião da Esquina, tendo abreviado para Lampião já no segundo número). Editado por nomes como Aguinaldo Silva, Clóvis Marques, Darcy Penteado, Jean-Claude Bernadet, João Silvério Trevisan, Peter Fry, entre outros, o jornal trazia, em seu primeiro editorial, a justificativa para sua publicação:


“A idéia de publicar um jornal que, dentro da chamada imprensa alternativa, desse ênfase aos assuntos que esta considera ‘não-prioritários’ (...), mas um jornal homossexual, para quê? (...) nossa resposta é a seguinte: é preciso dizer não ao gueto e, em conseqüência, sair dele (...) e uma minoria, é elementar nos dias de hoje, precisa de voz (...) Para isso, estaremos mensalmente nas bancas do país, falando da atualidade e procurando esclarecer sobre a experiência homossexual em todos os campos da sociedade e da criatividade humana.” (LAMPIÃO, 1978:2)


Lampião começou “elegante e terminou pornográfico” (KUCINSKI, 1991:84). Sua circulação coincidiu com a explosão pornográfica no país, em decorrência da distensão política, do fim da censura formal e por uma demanda reprimida por pornografia. Foi também uma época em que a homossexualidade começou a ser “assumida e aceita no Rio de Janeiro como em nenhum outro lugar do mundo.” (idem, 1991:83) Circularam 31 números, até junho de 1981. Assim como os jornais femininos que surgiram na época, seus jornalistas foram se constituindo num grupo ativista específico.


O jornal, em tamanho tablóide, era impresso em preto e branco. Trazia reportagens com personalidades não necessariamente homossexuais, contos, críticas literárias, de teatro, cinema etc. Grande destaque era dado às cartas dos leitores, que se tornavam legítimos espaços de visibilidade para a comunidade. Pequenas notas contra os atos preconceituosos da sociedade eram constantes. Assim como ataques diretos a homófobos ou quem agisse de modo politicamente incorreto (embora não se usasse tal terminologia à época) em relação aos homossexuais. Já nos números finais, o jornal começou a publicar fotos eróticas, o que antes evitava. Com essa transferência do enfoque, Lampião perdeu a credibilidade, já que pornografia a indústria cultural produzia melhor e mais barato. Embora tenha durado pouco, o jornal marcou a imprensa brasileira pelo seu vanguardismo nas posições defendidas.


A partir daí, a imprensa homossexual brasileira foi tomada pelo pornográfico. Dezenas de publicações surgiram explorando o nu masculino. Primeiramente, disfarçadas em revistas como Naturismo, que pregava a vida saudável e o fisiculturismo; aprimorou-se, depois, em publicações específicas, especialmente em São Paulo. Surgiram as revistas Gato, Alone Gay, Young Pornogay, entre outros títulos. Mesmo revistas não-gays, como Rose, chegaram a publicar, na seção de cartas, uma coluna dedicada aos anúncios homossexuais, reeditando o Correio Elegante, de Celso Curi. Embora impregnados de pornografia, alguns desses periódicos traziam artigos que buscavam discutir questões ligadas à homossexualidade.


Na década de 1990, a publicidade, principalmente a norte americana, começa a utilizar uma “estética gay” em alguns de seus produtos. Aqui, há dois aspectos a serem analisados. O primeiro é quando as grandes companhias vão atrás de um “mercado” gay e o outro é quando implementam temas ou representações gays na publicidade. Dependendo de como são definidas as representações do gay na publicidade, por exemplo, se olharmos para o travestismo como uma representação gay ou como uma referência do “ser gay” veremos que o uso dessa estética começou há muito tempo. No entanto, se olharmos de uma forma mais específica e explícita, como a representação de casais e situações inconfundivelmente gays, essa apropriação pela publicidade é mais recente.


A primeira real representação de um casal gay, na rede televisiva norte-americana, foi feita em um comercial da loja de móveis Ikea, em 1984. A campanha esteve no ar em não mais que três ou quatro canais, e apenas depois das 22 horas, mas causou uma sensação generalizada, porque ninguém, até então, havia sido tão ousado e objetivo quanto ao tema. Virou notícia em todo o mundo. (REVISTA DA CRIAÇÃO, 1998:27) Na mídia impressa, algumas divulgações importantes aconteceram mais ou menos na mesma época, como um catálogo da Banana Republic com uma foto sensual de dois homens, criado por Sam Shahid e fotografado por Bruce Weber. Essa dupla já havia feito trabalhos para a Calvin Klein e introduziu, nos Estados Unidos, a aceitabilidade do corpo masculino na publicidade. (REVISTA DA CRIAÇÃO, 1998:28) Contudo, o mercado gay vem sendo identificado há 15 ou 20 anos. Algumas grandes empresas já haviam começado a veicular anúncios na mídia gay, principalmente na área de entretenimento, cinema, música e bebidas, até que, com a explosão da Aids, resolveram retroceder com medo das reações homofóbicas que surgiram nos primeiros anos. Essa retração durou da metade da década de 80 até a metade da década atual. Através de pesquisas, a publicidade constatou que o público gay ganha mais dinheiro que a média do grande mercado, que tinha mais escolaridade e que consumia mais. Esse foi um passo fundamental para atrair a atenção do mercado publicitário.


Até aqui temos feito referência a anúncios convencionais na mídia gay e a etapa seguinte da apropriação de uma estética gay foi o surgimento de anúncios com temática gay. A partir do momento que começa a haver uma competição considerável entre as categorias de empresas anunciantes, foi preciso que elas buscassem diferenciar-se entre si, o que as teria levado a procurar “falar” de uma forma mais direta com o público leitor das revistas gays. Os fabricantes de cerveja foram os primeiros a veicular anúncios especialmente criados para a mídia gay. Miller, Budweiser e Coors fizeram um esforço para se aproximar do gay, adotando a linguagem desse público. (REVISTA DA CRIAÇÃO, 1998:30-31) No Brasil, a publicidade voltada para o público homossexual caminha bem mais devagar e, ao folhearmos as publicações gays editadas no país, veremos que apenas anunciantes como gravadoras e distribuidoras de cinema anunciam nessa mídia específica. Não podemos, entretanto, nos esquecer dos anúncios vindos das atividades mercantis propriamente gays. Parece-nos que a questão econômica é um fator primordial para conferir maior visibilidade à comunidade gay. Uma expressão é cunhada pelos publicitários norte-americanos para definir essa “nova” parcela de consumidores: dink (double income, not kids), ou seja, os casais gays possuem duas fontes de renda, e nenhuma criança. Assim, um novo mercado econômico [3] , voltado para essa comunidade, se desenvolve rapidamente. Segundo pesquisas (REVISTA DA CRIAÇÃO,1998:34), esse pink market possui um alto poder aquisitivo, maior, inclusive, que o dos heterossexuais nas mesmas circunstâncias [4] .

3. A imprensa gay


Com a explosão da Aids, que propiciou a abertura da mídia para a discussão da sexualidade [5] , de modo geral, e especificamente da homossexualidade, surgiram publicações com o intuito inicial de alertar a comunidade e discutir as implicações da síndrome na vida social. Surgem, assim, os boletins de grupos ligados diretamente à Aids, como o Boletim Abia, da Associação Brasileira Interdisciplinar da Aids; o Boletim Pela Vidda, publicação do Grupo Pela Vidda, entre outros, chegando ao Voz Posithiva, editado pela organização não-governamental “Gestos”, voltado exclusivamente para os infectados pelo vírus. Outra publicação, Saber Viver, surgida em 1999, também se destina às pessoas que vivem com o vírus HIV. Fora esses surgem também jornais/revistas de cunho mais cultural e de lazer como o Ent& (1994), distribuído apenas por assinaturas; o Grito de Alerta (1994), de Niterói, e o Nós por Exemplo (1992), editado pelo “Grupo Noss”. Este, inclusive, traz como encarte o caderno Agaivê Hoje, específico sobre temas relacionados à Aids.


No boom mercadológico em que se transformou a cultura gay, no final do século XX, o surgimento de uma revista, no mercado editorial brasileiro, em janeiro de 1995, veio mostrar que era possível a edição, com sucesso, de uma publicação de público restrito e temas específicos: a revista Sui Generis, que colocava mensalmente nas bancas de todo o país 30 mil exemplares. Em entrevista à Sui Generis, Aguinaldo Silva, um dos fundadores de Lampião, admite que aquele “era um jornal alternativo, Sui Generis, por exemplo, não é uma revista alternativa. Hoje em dia pode-se chamar isso de imprensa.” (SG, 1997:19).


Como aconteceu no final dos anos 1970, “quando a imprensa alternativa sofreu outra derrota, (...) os grandes jornais resolveram fazer profissionalmente o que era feito de maneira amadora” (FERNANDES, 1987:11). A grande imprensa descobrira o filão. Alguns jornais começam, então, a produzir ao menos uma página semanal dedicada ao público GLS [6] . É o caso da Folha de S. Paulo, que possuía uma coluna estritamente gay, depois foi ampliada para a página Noite Ilustrada, sob responsabilidade da jornalista Érica Palomino. Em Minas Gerais, o jornal O Tempo publica, aos sábados, a página Magazine GLS.


A experiência da revista Sui Generis deu certo e rendeu frutos. Hoje, pode-se encontrar vários títulos específicos para o público GLS nas bancas (de revistas pornográficas e títulos voltados para drags e lésbicas). Uma publicação, dentre essas, tem feito bastante sucesso, inclusive com o público feminino: a G Magazine (1998), que se utiliza de artistas, jogadores de futebol e modelos famosos em ensaios fotográficos de nu masculino. Fez tanto sucesso que várias outras revistas explorando o nu masculino surgiram, tanto publicações gays como aquelas que se intitulam “femininas” , como Gold (1999), voltada para o público gay e Íntima (1999), para mulheres e sem nu frontal. A própria Sui Generis, detectando a segmentação cada vez maior do mercado, lançou a revista Homens (1998), com a qual poderia atingir esse público ao publicar nus, anúncios de garotos de programa e criar uma seção de cartas para trocas sentimentais, assuntos não abordados na Sui Generis por questão de linha editorial.


A revista Sui Generis encerrou suas atividades em março de 2000 porque, segundo entrevista de Feitosa, ele estava cansado de “renegociar as dívidas todos os meses. Essa tinha virado minha principal preocupação. O jornalismo estava ficando em segundo plano.” (VEJA, 19/04/2000:102) Nessa entrevista, o editor cria uma expectativa sobre a possibilidade de continuação de Sui Generis, agora como revista on-line, na rede mundial de computadores, que não acarretaria em custos maiores com impressão e distribuição da revista. A outra revista do grupo, Homens, de nu masculino, continua saindo mensalmente. Se logo depois do lançamento de Sui Generis as outras publicações que apareceram eram vistas como concorrentes imediatas – e a revista seria o “modelo” a ser alcançado –, com seu fim o público homossexual brasileiro viu-se novamente quando da época do fechamento de Lampião: apenas revistas dedicadas ao nu masculino dominam o mercado editorial gay atualmente.


Mesmo assim, a grande imprensa e mesmo uma editora voltada para o segmento de livros (Edições GLS) dão continuidade ao projeto de “sair do gueto” proposta ainda em tempos do jornal militante Lampião. Para os usuários dos serviços da Internet, entretanto, páginas voltadas para o público homossexual surgem a cada dia como, por exemplo, os sites encontrados nos seguintes endereços eletrônicos: http://www.supersite.com.br;/, http://www.zeekclip.com.br;/ http://www.glsite.com.br;/ http://www.mixbrasil.com.br/, entre vários outros.


4. BIBLIOGRAFIA


BEIJO (1977), Rio de Janeiro: Editora Boca, nº. 2, Dez.
CASTELO BRANCO, Adriana & CERQUEIRA, Sofia (1995). “O Toque de Midas é cor-de-rosa” . In: Jornal do Brasil (Revista de Domingo), ano 20, nº 1016, 22 de outubro, pp. 30-38.
DAHIR, Mubarak (2000). It pays to love womem. The Advocate, 4 de julho.
ENT& (1994). Rio de Janeiro: Editora Tribo, nº. 5, pp.13-15.
FERNANDES, Millôr (1987). “Imprensa Alternativa & Literatura - os Anos de Resistência”. Centro de Imprensa Alternativa e Cultura Popular, Rio de Janeiro: RioArte.
KUCINSKI, Bernardo (1991). Jornalistas e revolucionários da imprensa brasileira. São Paulo: Escrita Editorial.
LAMPIÃO (1978), Rio de Janeiro: Editora Codecri, ano 0, nº. 0.
REVISTA DE CRIAÇÃO (Meio&Mensagem) (1998), São Paulo, ano 4, nº. 44.
SUI GENERIS (1995-1998), Rio de Janeiro: Editora Tribo, nº.1-41.
VEJA, 19 de abril de 2000.


[1] A expressão “imprensa alternativa” teria sido cunhada por Alberto Dines, conforme citado em KUCINSKI, 1991. O termo “alternativa” contém quatro dos significados que podem explicar esse tipo de imprensa: “o de algo que não está ligado a políticas dominantes; o de uma opção entre duas coisas reciprocamente excludentes; o de única saída, para uma situação difícil e, finalmente, o do desejo das gerações dos anos 60 e 70 de protagonizar as transformações sociais que pregavam.” (KUCINSKI, 1991:XIII)
[2] Esse levantamento e os dados que seguem foram feitos nos 31 números que circularam de Lampião.
[3] Sobre os negócios voltados para o público gay, ver, por exemplo, CASTELO BRANCO & CERQUEIRA, 1995:30-38.
[4] Em oposição a esse “mito da superioridade”, DAHIR (2000) afirma que estudos recentes “mostram que as lésbicas ganham mais que as mulheres heterossexuais enquanto os homens heterossexuais têm melhores salários que seus colegas gays.”
[5] Para uma discussão acerca das relações entre a Aids e a mídia pode-se consultar, entre outros, FAUSTO NETO, 1999 e CARVALHO, 2000.
[6] A sigla GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), cunhada pelo jornalista André Fischer, entrou no jargão jornalístico e caiu no gosto popular, talvez por ser mais abrangente que a denominação gay.

Fonte:

3 comentários:

Rita Colaço disse...

A primeira pessoa a fazer um levantamento da imprensa homossexual foi Leila Míccolis - um artigo no Lampião e, anos depois, um Catálogo da Imprensa Independente. Porém, em razão muito provavelmente ao preconceito da academia por trabalhos realizados fora de seus muros, sempre ignorado - o que inclusive possibilita sejam clonados.

RICARDO AGUIEIRAS disse...

Carlos,
Belo trabalho! Por incrível que pareça, sinto saudades da "Rose" e da "Alone Gay", que eram vendidas plastificadas e meio escondidas, ainda no resto de ditadura em que vivíamos. Sabe por que sinto saudade delas? por que ninguém se preocupou com o resgate das mesmas, como teve o Lampião; denotando moralismo, já que eram, também, pornográficas. Talvez por eu ter vivido tanto o Lampião, pela militância no Somos, que sinto mais saudades dessas que vieram depois e tentaram sobreviver com os leitores morrendo aos montes, de aids. E penso que também a Sui Generis merecia ter suas edições digitalizadas, todos os números, lá o Trevisan teve um espaço bárbaro, muitas vezes 4 páginas para ele falar tudo, sempre tão divinamente. Nunca mais, nem mesmo nos melhores dias da G Magazine, ele teve tanto espaço... Aliás, a G está numa crise ferrenha e pode fechar definitivamente, também encerrando algo que ainda não percebo bem o que é...
Sei que é muito difícil a gente ter a dimensão do momento atual, presente, em que vivemos, mas hoje, 11 de Abril de 2010 encerrou-se mais um marco de nossa imprensa e isso merece uma discussão maior, por que o motivo não foi explicado: a "Coluna GLS" da Revista da Folha, do jornal Folha de S. Paulo. Eu gostaria muito de saber o por que. Hoje teve a despedida final de Vange Leonel e Vitor Angelo, que se revesavam quinzenalmente... As explicações que eles deram não me convenceram em nada e são meia que superficiais e absurdas. Argumentam que "como tudo cresceu esse diluiu, não há mais a necessidade de uma coluna específica para a homossexualidade". Só falaram isso e eu não sei se isso é uma verdade universal, paramim, essa coluna por onde passaram tanta gente, do André Fischer ao fútil Duílio Ferronato, Vitor Angelo que fazia um bom trabalho e ótimos questionamentos e tudo o que a Vange escreveu, importante demais. Briguei com todos... risos.... mas não perdi uma única que fosse... Na verdade, não explicam o por que do fim. Me dói muito quando as coisas acabam assim,roubando nossos referenciais, foram mais de l0 anos de uma coluna que já tinha virado uma "amiga" e que fazia pensar...
Beijos emocionados do
Ricardo
aguieiras2002@yahoo.com.br

CELSO CURI disse...

A Coluna do Meio era publicada diariamente na Ultima Hora de São Paulo e durou 3 anos. Terminou em 1979, um pouco antes do final do processo movido contra mim pela União.
Celso.

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